Acabo de ter um encontro com o Papa. Dei-lhe um beijinho, como a um avô muito querido! E segredei-lhe ao ouvido um pedido. Perguntou-me como me chamava e eu respondi-lhe, olhos nos olhos.

Chorei de emoção por me ter cruzado com aquele homem tão simples e lhe ter entregado a minha verdade. E senti uma paz interior, a certeza de um destino seguro para aquela encomenda tão frágil.

Chegada a casa com os olhos marcados e o coração a arder, embato com a realidade. Somos os seis a jantar, mais os cinco peregrinos argentinos que só partem amanhã. Os miúdos dormem exaustos, depois de uma noite ao relento, que marca para sempre a sua estreia nas Jornadas Mundiais da Juventude. Raise up, suja as mãos e põe-te a caminho, que o Amor é este concreto jantar.

Podia ser esta a herança da minha JMJ, um conjunto de máximas bonitas para uma vida melhor e uma pessoa mais plena. Mas aquilo que em mim realmente se passou, o que fica em mim destes dias, vai muito para lá do racional. Sinto que vivi um pouco do céu na terra. Vivi a magia a que os crentes chamam “graça”. A graça destes dias inundou o nosso mundo, homogéneo e globalizado, de diversidade. A JMJ foi um espelho da diversidade que habita a face da Terra.

Hábitos religiosos, cores da pele, bandeiras nunca vistas, pularam pela cidade em festa! Alegria foi talvez o sentimento mais à pele em todos nós. Um sentimento de comunhão, de entendimento, de harmonia, de paz e de segurança, que advém da entreajuda que se multiplicou em milhares de gestos, entre milhares de pessoas. Não sei explicar isto. Mas tenho a certeza de que quem foi peregrino, voluntário, embaixador de Lisboa ou mero caminhante por entre este mar de gente, sabe a que me refiro. Falo do milagre que trouxe ao de cima o desejo de cada um ser bom, de contribuir, de ser parte da solução, de não criar problemas, de minimizar a sua pegada. Foi como se Deus soprasse sobre Lisboa e cobrisse a todos de bem.

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Jamais esquecerei o efeito que essa graça teve em mim. Uma comoção que não conseguia conter e saía pelos meus olhos a cada passo. Nunca chorei como nestes dias. Um choro de agradecimento e de louvor por esta experiência de um mundo e de uma humanidade que é possível. “A JMJ mostrou a todos que um outro mundo é possível”, rematou o Papa na sua avaliação.

Guardo a experiência de viver o lado mais bonito de mim e dos que me foram próximos. Não existe melhor experiência na vida do que essa, da presença real de Deus, que vive e não nos deixa sós. Dela nasce uma esperança profunda de que o futuro seja um eco desta Jornada Mundial da Juventude, renovador do nosso mundo para melhor! Uma esperança que exige a força, coragem e a criatividade para concretizar em nossas vidas o lema “Não mais deixaremos de amar”. Obrigada Lisboa, foste aqui e agora a chave do futuro.

Raise up!