1 Deu que falar a fotografia absolutamente censurável divulgada após a detenção de João Rendeiro na África do Sul. Muitas foram as vozes que, na comunicação social, criticaram a exibição daquela imagem. Quem achou que era boa ideia tirar aquela fotografia e divulgá-la não tem sentido ético nem respeita os direitos humanos, hoje em dia tão propagandeados a propósito de certas propostas políticas.

Mas, neste caso, não basta que os meios de comunicação social sejam palco para difundir opiniões críticas. Há uma responsabilidade própria de quem serve o propósito de difundir uma mensagem censurável. Essa responsabilidade cabe aos próprios meios que devem acionar os seus códigos éticos e tomar a decisão de não publicar aquilo que é eticamente censurável.

É verdade que a linha que separa o que deve e o que não deve ser publicado é, na maior parte dos casos, uma linha muito ténue. Mas é também porque cabe aos jornalistas fazer essa mediação que confiamos na imprensa para nos fazer chegar a informação credível.

Não basta censurar a decisão de quem decidiu distribuir aquela imagem. Neste caso quem a divulga é coautor do crime e custa verificar que nenhum meio de comunicação social português tomou a decisão de não divulgar a fotografia. Ao contrário, ela tem sido replicada inúmeras vezes e de cada vez que o é, é mais um ataque aos direitos humanos do próprio e de todas as pessoas que estão nas mesmas circunstâncias.

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2 “Como é que te sentes? Estás nervoso? Achas que é importante tomar a vacina?”

Este fim de semana demonstrou mais uma vez como o que passa nos jornais, nas rádios e nas televisões tem um impacto decisivo no comportamento das pessoas. Passámos dois dias a ver e ouvir entrevistas a crianças de 9 e 10 anos sobre o receio que tinham ou não tinham de tomar a vacina, a segurança que sentiam ou não em tomá-la, as discussões familiares que tiveram ou não antes de se deslocarem ao centro de vacinação. Na sala de recobro acompanhámos a par e passo a recuperação das crianças depois de levarem a pica e verificámos que as crianças recuperaram bem e não tiveram nenhum fanico. Em resumo, foram 48 horas disto em toda a comunicação social portuguesa.

Não podemos gerar o pânico, ouvimos e lemos aos responsáveis de muita comunicação social, mas a prática dos meios que dirigem mostra o contrário. Mais uma vez se percebe a dificuldade de escolher um caminho diferente quando todos seguem na mesma direção, mas este é um daqueles temas em que o jornalismo não pode nem deve ser neutro.

Se queremos bom senso, racionalidade e equilíbrio na forma como obrigatoriamente nos vamos ter que habituar a conviver com o vírus, isso tem de implicar uma viragem completa na forma como a comunicação social lida com o tema. Entrevistar crianças de 10 anos como se fossem adultos informados e capazes de tomar decisões com base em conhecimento científico não me parece ser o melhor caminho.