Parece querer-se esquecer sistematicamente o valor e a dignidade da vida humana. A sociedade portuguesa tem sido confrontada com ataques sucessivos à defesa da vida humana. Assistimos a “malabarismos perversos”, utilizados por políticos que pretendem impor uma agenda radical de esquerda e promotora também de uma cultura de morte.

Na sua generalidade o povo português não acolhe nem se revê nestas posições!

Diante desta realidade, os protagonistas de tais ataques prosseguem uma agenda clara de condicionamento quer do pensamento quer das possíveis escolhas dos portugueses.  Estes ataques consubstanciam-se através da aplicação de leis, a meu ver, arbitrárias e contrárias ao direito natural.

Alguns destes protagonistas apresentam também a eutanásia e o suicídio assistido como receitas destinadas a proporcionar um fim de vida mais digno a seres humanos para os quais, alegam eles, a vida deixou de ter sentido e, portanto, deixou de ter dignidade.

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Façamos então um exercício de memória acerca dos “malabarismos perversos” a que me quero referir:

1º Em junho de 1998, foi referendada a despenalização da interrupção voluntária da gravidez (i.v.g.), tendo um número expressivo de cidadãos expressado um não à despenalização. Contudo, em 11 de fevereiro de 2007, foi realizado novo referendo, no qual foi colocada a mesma questão do referendo anterior, com o pretexto de que o resultado do anterior referendo seria inconstitucional devido a uma abstenção que atingiu os 66%.

Apesar de neste último referendo a abstenção ter-se mantido elevada, ou seja, próximo dos 55%, o seu resultado, agora um sim à despenalização, foi reconhecido, de forma inexplicável, como válido.

2º Nos dias actuais, através da aplicação do articulado legal aprovado em 2013, é condicionada intencionalmente a actuação dos profissionais de saúde que são objectores de consciência. A lei obriga-os a encaminhar as mulheres grávidas que solicitem a interrupção da gravidez para os serviços competentes, dentro dos prazos legais e impossibilita-os de participar na consulta prévia e no acompanhamento dessas mulheres durante o período de reflexão.

3º Ainda na senda do condicionamento do pensamento e escolhas dos portugueses, assistimos ao perpetuar da falta de condições, para que se viabilize, na sua plenitude, o acesso a cuidados em fim de vida (ou em situação de total dependência dos outros) o que poderá levar os mais incautos ou desesperados com o seu sofrimento, a aderirem a uma atitude motivada por uma falsa “compaixão” que visa encurtar deliberadamente uma vida.

Diria eu que por “compaixão” quer matar-se a própria compaixão!

Acresce a este panorama que alguns responsáveis políticos no nosso país querem agora sinalizar nos serviços públicos os profissionais de saúde objectores de consciência.

Porque será?

Talvez na tentativa de garantirem que a uma mulher grávida que acorre em desespero a um serviço, não lhe possa ser dado o apoio, acolhimento e encaminhamento necessários para fazer a sua escolha livre e informada.

Por outro lado, este controlo que parece querer exercer-se sobre os profissionais de saúde objectores de consciência, tem a meu ver outra finalidade.

Ou seja, que após o dia 6 de outubro, caso estejam reunidas as condições políticas para despenalizar a eutanásia, sejam implementadas de modo efectivo e discricionário medidas a aplicar gradualmente a  pessoas com doença terminal, alargando-se à doença crónica e à deficiência, à doença física incurável, à doença psíquica dificilmente curável; da eutanásia consentida pelo próprio à eutanásia consentida por familiares de recém-nascidos, crianças e adultos com deficiência ou em estado de inconsciência!

É este o caminho que se tem sido seguido nos países em que a eutanásia foi despenalizada.

Vive-se, a meu ver, um ambiente   sombrio e triste, um ambiente um pouco repressivo, próprio dos ambientes socialistas e estatizantes.

Inexplicavelmente sente-se uma atitude abúlica generalizada. Parece estarmos mergulhados num vazio!

O verdadeiro progresso da humanidade assentou sempre em leis que defendem a vida humana e impedem “os mais fortes de exercerem o seu poder sobre os mais fracos”, por isso, urge uma nova fase, uma nova era ancorada em valores e princípios éticos. A mudança tem que ter actores comprometidos e corajosos, que não sejam ostracizados, não lhes seja condicionada a liberdade de actuação e de decisão, bem como a liberdade de pensamento, e que não estejam sujeitos à imposição da ditadura do politicamente correcto.

Apelo àqueles que se sentem responsáveis pelo bem comum:

  • a integrarem os grupos da sociedade civil que defendem a dignidade da vida humana da concepção à morte natural e que combatem as várias tentativas políticas de contrariar essa dignidade!
  • a esclarecerem e empenharem-se em acções que visem criar as condições para que os partidos políticos se venham a comprometer com a revisão da lei do aborto!
  • a alertarem para as posições de partidos políticos que não se comprometem de forma clara e inequívoca com a defesa da vida humana e que, de forma traiçoeira, promovem uma sociedade sem valores éticos e sem direitos naturais!
  • a não darem o seu voto no próximo dia 6 de outubro a forças políticas e a políticos que são omissos no combate a ideologias que atropelam o direito à vida e não o respeitam como o primeiro dos direitos fundamentais constitucionalmente enunciados.

Porque a vida humana é inalienável e inviolável!