Naquele que foi um ano de mudança, uma variável manteve a trajetória conhecida: o risco climático. Apesar de vivermos uma nova cadência global nas atividades económicas, modelos de trabalho e dinâmicas sociais, estamos também a ajustarmo-nos a um “novo normal” já com os planos de vacinação contra a Covid-19 em implementação, mas os efeitos das alterações climáticas continuam a fazer-se sentir. A emergência de saúde pública – e económica e social – fez e continua a fazer relegar a emergência climática para segundo plano, mas em 2021, o clima tem de voltar a estar, igualmente, em cima da mesa e acredito que assim vai ser.

Segundo o White PaperO desafio das alterações climáticas”, em 2019, os furacões, incêndios e inundações representaram um custo de 150 mil milhões de dólares, mas estes eventos climáticos extremos são apenas uma parte dos riscos ambientais globais. O ano de 2020 segue uma rota idêntica: o relatório da Organização Meteorológica Mundial sobre o estado do clima global dá conta de milhões de pessoas afetadas por eventos climáticos extremos, incluindo um recorde na época de furações no Atlântico, e a previsão de que este será um dos três anos mais quentes de que há registo.

Apesar da pandemia, as concentrações atmosféricas de gases com efeito de estufa continuam a aumentar. O declínio registado nas emissões de CO2 durante os grandes confinamentos de março e abril, em várias regiões do globo, veio a revelar-se apenas pontual, confirmando que só com ações concretas e sustentadas de mitigação e adaptação será possível agir contra as alterações climáticas. Como a experiência da gestão de riscos e na proteção nos ensina, todos os dias, os custos de agir no presente compensarão sempre os custos da inação.

Rumo à recuperação “verde”

Neste contexto muito particular em que vivemos, é natural e perfeitamente aceitável que a luta contra o coronavírus seja prioritária nas preocupações globais. Contudo, torna-se fundamental que a COVID-19 não nos alheie desta corrida a longo prazo da gestão climática. Até porque é numa resposta conjunta dos vários riscos sistémicos – incluindo o clima nas estratégias de readaptação e recuperação –, que as organizações conseguirão reforçar a sua resiliência perante a incerteza.

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Há vários sinais positivos de que este será o caminho a seguir. Os resultados do relatório do Fórum Económico Mundial, “Riscos Regionais dos Negócios 2020”, demonstram que os líderes empresariais não ignoram os riscos relacionados com o clima para os seus negócios – a preocupação com “catástrofes naturais”, ou “falha de adaptação às alterações climáticas” subiram no ranking, em relação a 2019. Ainda que os riscos económicos dominem o top deste relatório, a atenção aos riscos climáticos em ano de Covid-19 é um indício de que as empresas estão a reavaliar prioridades e que a sustentabilidade não é ignorada. Conhecer para agir: percecionar o risco é o primeiro passo para a sua gestão ativa e incorporação nas estratégias de resiliência organizacionais.

O Fundo Monetário Internacional destaca que o atual contexto é uma oportunidade única de reajustar o rumo da economia para um eixo de baixo carbono, com investimentos que possam, em simultâneo, fomentar o PIB e o emprego, mas também contribuir para uma economia mais verde, inclusiva e resiliente.

A União Europeia também está a dar passos largos nesse sentido. O programa de recuperação Next Generation EU, em ligação com o Pacto Ecológico Europeu (Green Deal), reforça que a estratégia europeia para sair da crise provocada pela pandemia assenta, precisamente, no crescimento verde, na digitalização e na resiliência. São incentivos importantes numa altura de recuperação económica em que todas as alavancas fazem a diferença – e um apoio às organizações europeias para implementarem estratégias robustas de mitigação e adaptação, incluindo a transformação de modelos de negócio.

No rescaldo do ano que passou, 2021 adivinha-se um ano crucial para lançar estas estratégias e começar a construir um novo caminho pós-crise. Da resposta de saúde pública – com as vacinas a serem distribuídas e administradas – à resposta de resiliência económica, assente na gestão do risco climático e na procura de oportunidades numa economia de baixo carbono. Que este ano comece como todos devem começar: com esperança e otimismo num futuro melhor.