Num mundo em que a mudança acontece de forma rápida, e por vezes transformando radicalmente comportamentos (como os acontecimentos recentes nos ensinaram), a capacidade de adaptação a novos paradigmas é, cada vez mais, o factor diferenciador no sucesso e longevidade das organizações.

Utilizar tecnologias digitais para transformar o negócio, abraçar metodologias desenhadas para a mudança, ter coragem para errar e aprender e criar o foco real nas pessoas são chave no desenvolvimento desta capacidade de adaptação.

Utilizar tecnologias digitais para transformar o negócio

A tecnologia digital está a transformar e a disromper todos as áreas de negócio, trazendo simultaneamente oportunidades e ameaças.

Por um lado, acesso a informação com enorme precisão e em tempo real permite-nos conhecer o cliente como nunca antes. Por outro lado, a tecnologia elimina barreiras à entrada de novos concorrentes até nas áreas mais tradicionais de negócio – por exemplo, a Airbnb, uma empresa puramente tecnológica, sem deter qualquer alojamento, provocou uma disrupção profunda no sector da hotelaria. A Uber fez algo similar na área dos transportes.

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O grande desafio das organizações, pequenas ou grandes, é perceber como combinar as  tecnologias digitais com as suas competências diferenciadoras, para servir melhor o seu cliente (actual e futuro).

Abraçar metodologias desenhadas para a mudança

É necessário revisitar paradigmas que assumem que o ser humano tem a capacidade de planear com exactidão o futuro a médio e longo prazo – nem tudo é previsível.

As metodologias ágeis (como Scrum ou Kanban), são “desenhadas” para tirarem o melhor partido da mudança constante. Inicialmente popularizadas no desenvolvimento do software, estão a conquistar outros tipos de organizações. O ING, um banco holandês com presença mundial, é um dos casos de sucesso de conversão organizacional a um modelo ágil.

Práticas como: foco nas actividades de maior valor, entrega contínua de resultados (incrementos), re-priorização a cada x semanas, permitem às empresas navegar com maior segurança num mundo em mudança.

Ter coragem para errar e aprender

No contexto das metodologias ágeis, a experimentação e o erro são reconhecidos como partes integrantes do processo de melhoria e aprendizagem sobre o que funciona (e, especialmente, sobre o que não funciona).

Porque a entrega de resultados é incremental e em intervalos de poucas semanas, o impacto de potenciais erros é reduzido, criando um espaço para a experimentação que permite recolher informação factual valiosa para a priorização dos próximos passos.

Mais do que a metodologia adoptada, é importante que a liderança organizacional viva estes princípios. Nenhuma metodologia sobrevive a uma liderança que transmite sinais contrários aos princípios que advoga.

Criar foco real nas pessoas

As organizações, na sua maioria, declaram que as pessoas (o talento) são importantes. Este compromisso deve traduzir-se em medidas práticas que tragam valor não só às organizações como também às pessoas – por um lado, capacitando as equipas para consistentemente contribuírem para o sucesso da organização num contexto de mudança permanente, por outro, proporcionando às pessoas oportunidades de crescimento e valorização pessoal.

As tecnologias digitais oferecem formas inovadoras de responder a estes desafios: desde o e-learning às comunidades de prática virtuais há uma oferta rica de conteúdos e formatos.

Promovendo o bem-estar e o desenvolvimento de equipas cada vez mais digital native, que usam estes meios de forma natural, as organizações ganham profissionais mais capacitados e motivados, com uma visão enriquecida por interações com pares de todo o Mundo, que será um contributo valioso para construir o futuro da organização.

A mudança é uma fonte de oportunidades. A combinação da utilização da tecnologia digital, metodologias desenhadas para a mudança, coragem para errar e aprender e foco nas pessoas cria as condições para transformar oportunidades em crescimento sustentável não só da organização como também das pessoas e dos ecossistemas em que se integram.

Margarida Afonso é gestora sénior de programas transformacionais e de equipas de excelência. Licenciou-se em Engenharia Informática, fez uma especialização em Gestão de Informação e tem uma carreira internacional gerindo grandes programas por quase todos os cantos do mundo. É professora convidada no ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto) introduzindo futuros engenheiros no mundo de Agile and Scrum. Dedica parte do seu tempo pessoal ao voluntariado na luta contra a pobreza e exclusão social porque acredita que todos têm um enorme potencial à espera de ser libertado e que, onde a vida ainda não tenha criado condições para isso, temos a obrigação de ajudar a criar. Tem muitos interesses – leitura, viagens, gastronomia, walking trails, fotografia – e uma verdadeira paixão pela aprendizagem e transformação contínuas de si própria, dos que a rodeiam, das organizações e das comunidades.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.