Winston Churchill afirmou que não existe opinião pública, existe apenas opinião publicada (“There is no such thing as public opinion. There is only published opinion”). Nunca como no momento atual esta afirmação foi tão real. O mundo é visto e percecionado pela forma como nos chega pela televisão e pelas redes sociais. A sociedade como que se inspira e se baseia num universo fechado, numa bolha controlada onde influencers, jornalistas e aspirantes a ditadores morais publicam a única verdade e o código obrigatório do politicamente correto. Tudo o que não esteja de acordo com essa visão minoritária, mas que se torna universal pela força de um post ou de um tweet deve ser cancelado, perseguido e excluído da vida em sociedade. Uma espécie de democracia onde quem tem a ousadia de pensar de forma livre e distinta desta elite cultural e absoluta perde essa mesma liberdade e, até quase, o direito à vida.

A onda de raiva, ódio e descriminação manifestada por responsáveis pela marcha de apoio às causas LGBT no Porto é o mais recente reflexo dessa ausência de democracia manifestada pelos autodenominados donos da liberdade. Talvez se esqueçam estes herdeiros exclusivos de Abril que o direito à opinião livre, o direito à liberdade de expressão e o direito ao respeito por todos independentemente das suas convicções políticas ou religiosas é uma conquista inegociável de Abril e do 25 de Novembro. Tudo menos que isto são tiques ditatoriais que um Portugal democrático não quer e não precisa.

As ruas a quem as merece!

Que a Direita não sabe fazer manifestações já todos sabemos. O que não sabíamos é que nem sequer tinha esse direito. Na página Esquerda.net, pertencente ao Bloco de Esquerda, Carolina Gomes assina um texto a 25 de Abril de 2021 com o título: “As ruas a quem as merece!”. Não me vou debruçar sobre o texto, mas sobre o poder do seu título, tão defendido pela autora e pelo partido a que pertence.

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Quando se fala de direitos LGBT talvez seja importante recordar alguns factos. Destaco a palavra factos porque são esses, mais que as palavras, que importam nas lutas e nas conquistas. O Bloco de Esquerda e os seus militantes gritam e ofendem quem, com bandeiras de cor diferente, se junta a eles numa luta pelos direitos de quem até há pouco tempo não tinha direito a bandeiras. Esquecem-se que todos seremos poucos para que as conquistas não se percam e a diferença seja respeitada pela sociedade.

Olhando para a história dos valores em política podemos observar alguns dados curiosos. Temos um partido com vários dirigentes, figuras de primeira linha, um deputado com responsabilidades relevantes no parlamento e até um membro do governo, que assumiram a sua homossexualidade. Foi o Bloco? Não, foi o CDS-PP. Aliás sobre este partido é interessante ressalvar que o seu hino foi escrito e interpretado por uma das primeiras mulheres a assumir a sua orientação sexual em Portugal. Um dos líderes mais admirados, a maior referência do seu partido e provavelmente o D. Sebastião dos republicanos, assumiu e defendeu uma relação, enquanto ainda era casado. Foi primeiro ministro eleito pelo Bloco? Não, foi pelo PSD. E Portugal já teve o seu primeiro membro do governo casado com uma pessoa do mesmo sexo. Tratou-se de um militante do Bloco? Não, é do PS.

Já todos ouvimos que só quem sofre na pele pode falar, senão é apropriação. Um homem não pode falar dos direitos das mulheres ou um hétero não pode falar de direitos LGBT. Que fique claro que a Direita tem nas suas fileiras (e não os discrimina ou impede de chegar a cargos de relevo) militantes que sofreram e sofrem com as discriminações e que numa luta contra a discriminação todos devem dizer presente. Que fique claro que as ruas devem ser ocupadas por quem defende a não descriminação, a verdadeira inclusão, a pluralidade de opiniões e o respeito inegociável pelos direitos humanos. Defender o contrário é não defender a democracia e os valores democráticos.

Para quando uma campanha da Fox sobre respeito e tolerância?

A Fox não teve medo de ser “cancelada” porque sabe que os “intolerantes” são democráticos. O que se registou no Porto não é virgem. Ameaças nas descidas da Avenida da Liberdade nas celebrações do 25 de Abril, as perseguições nas redes sociais aplicando o preconceito e descriminação que tanto condenam oficialmente, ou as ofensas e ataques nas declarações públicas ou em manifestações onde toda a culpa do mundo está no maldito capitalismo e na NATO, são exemplos de como a atitude persecutória, ameaçadora e ditatorial da extrema esquerda no Porto representam sinais perigosos para a democracia.

Para a balança moral do Twitter, todos os católicos intolerantes são de direita e todos os intelectuais defensores da liberdade são de esquerda. É profundamente falso e não fica mais verdade por ser repetido até à exaustão. Estamos num momento em que seria importante explicarmos os valores da tolerância, respeito, liberdade e democracia à extrema esquerda portuguesa. Estamos num momento em que a Direita deveria perder o seu medo de ir para as ruas, de perder o seu medo de se confundir com o povo ao qual pertence e de aprender que manifestar-se pelos seus valores e pelas suas crenças é um ato de liberdade, é um ato de democracia e é um ato urgente numa sociedade que, ao contrário do que se grita por aí, caminha para a intolerância, para a descriminação e para uma ditadura de um errado politicamente correto.

Termino como comecei citando Churchill que em pleno Parlamento afirmou que “um fanático é uma pessoa que não pode mudar de opinião e que não muda de assunto”. Tenhamos a coragem de combater todas as formas de fanatismo, mesmo aquelas que vem “embrulhadas” em alegados garantes morais da única visão correta do Mundo. Tenhamos a coragem de defender a liberdade de expressão, a liberdade de opinião, a liberdade individual e a liberdade económica porque, como alguém um dia gritou, “liberdade ou morte”.