No passado dia 31, numa transmissão da Renascença com o titulo “Nem um voto cristão no Chega”, você afirma que um católico não pode ser nacionalista nem votar no Chega. Acontece que sou católica, nacionalista e votei no Chega.
Sou nacionalista porque me reconheço na pertença a uma nação, da qual recebi uma herança que prezo, e que faz parte da minha identidade. Ao contrário do que o Henrique insinua, não me sinto “propriedade” da nação, mas proprietária de uma herança que partilho com todos os portugueses, cheia de gratidão por aqueles que ma legaram, e que orgulhosamente leguei aos meus filhos.
Dos muitos bens que, sem mérito meu, recebi, o que de longe me é mais caro foi o da minha educação católica. Um bem que se inscreve na História do meu país, uma História intimamente ligada à História da Igreja. Pelo que a circunstância de ter nascido numa família católica não pode ser desligada da minha nacionalidade. Pertenço à Igreja Católica porque o meu país me legou a tradição cristã, que livre e conscientemente assumo e preservo.
Este é o motivo por que não me revejo na sua afirmação de que um “nacionalista católico” é uma contradição nos termos”.
Também não percebo o uso depreciativo que faz da expressão “populismo nacionalista”, porque com ela está a desvalorizar todo o povo que se reconheça portador de uma nacionalidade. Na verdade, o Henrique Raposo transmite, neste artigo, uma visão dos homens como seres desligados de uma comunidade, e a sua afirmação de que “Um católico não vê grupos, não vê classes, não vê raças ou etnias, vê seres humanos” leva-me a concluir que considera os traços particulares de cada comunidade como impeditivos do reconhecimento da humanidade dos que a ela pertencem. Mas devo dizer-lhe que um católico não fecha os olhos a nenhum elemento da realidade. Eu diria antes que um católico deve olhar para cada “pessoa” como alguém que, pertencendo a um grupo, uma classe, nação, raça ou etnia, tem a mesma dignidade, deve usufruir dos mesmos direitos e é sujeito dos mesmos deveres.
E este ponto leva-nos à sua alegação de incompatibilidade entre ser católico e votar no Chega, partido que define como “abertamente racista”, que derrama “ódio sobre minorias,” e estigmatiza “um grupo inteiro de pessoas”. Concluo que não leu o programa do Chega. Ou que, se o leu, não o compreendeu. Eu não só o li, como ouvi o Presidente do Chega denunciar a subsidiodependência na comunidade cigana, mas ressalvando que esse facto não se aplica a todos, embora a uma grande maioria da comunidade. Não é ódio, mas elementar justiça, pois a sua denúncia assenta na firme convicção de que “todos são iguais em direitos e deveres”. Ventura insurge-se contra um maior favorecimento por parte do Estado de certas “minorias”, desmascarando um critério de base étnica que contradiz as acusações de racismo por si proferidas.
Mas se até este ponto me era possível aceitar as afirmações do Henrique como manifestação de uma certa preocupação pelos católicos, a sua negação do caráter genuíno da defesa da vida por parte do partido, que se encontra claramente explicitada no seu Programa, fá-lo incorrer no erro de que acusa o partido: o de pouca seriedade, patente na ironia com que compara esta posição inequívoca do Chega a um “canto de sereia sobre o eleitorado católico através de posições fortes sobre aborto e eutanásia”. Sem qualquer facto sobre o qual possa fundamentar essa grave acusação, o único argumento a que recorre é que “é um passo conhecido. Por esse mundo fora, da Polónia e Hungria, passando pelo Brasil e EUA, partes do mundo cristão têm apoiado líderes autoritários e abertamente xenófobos em troca de leis ou posições anti-aborto”.
Destas suas palavras deduzo que faz depender o valor destas posições mais de quem as proclama do que da verdade que veiculam. Como católica, considero que a verdade é objetiva, seja ela dita por quem for. Assim, louvo a posição que o PCP tomou quanto à eutanásia, apesar de não professar a ideologia desse partido. Além disso, usou estas palavras para vaticinar o procedimento futuro do Chega com base num padrão que diz reconhecer em outros partidos. Não posso, pois, deixar de notar que o Henrique está precisamente a fazer o contrário do que diz sobre um católico, está a julgar uma pessoa, o Presidente do Chega, com base em procedimentos que julga detetar num grupo “por esse mundo fora”.
Em síntese, há dias, o Henrique Raposo tentou arregimentar contra o Chega a Direção do Benfica, que laconicamente lhe respondeu mandando-o ler o regulamento do Clube. Fracassada a instrumentalização da Direção e da massa associativa do Benfica, lança a sua condenação sobre os católicos que votaram ou que ponderem vir a votar no Chega. E eu termino com uma pergunta: com que direito os julga?
Com os meus melhores cumprimentos,
Margarida Pacheco de Amorim