Dêem-me a liberdade de começar por me apresentar: o meu nome é Ana Pinto Mascarenhas, tenho dezanove anos e estudo comunicação social. Serei, provavelmente, daqui a uns anos, talvez para tristeza de muitos que leem este texto, jornalista. Nesta carta aberta falarei apenas por mim. Não pretendo generalizar esta opinião à minha geração. Permitam que me questione muitas vezes para chegar a conclusões diferentes a cada instante.

Gostaria de começar por falar diretamente com Rui Rio, o atual presidente do PSD, líder do maior partido da suposta oposição. Começo por recuar até às últimas eleições legislativas, quando exerci o meu direito de voto pela primeira vez. É um tema já debatido, mas gostaria de mais uma vez carregar na mesma tecla e recordar a declaração de Rui Rio perante o resultado: “Não foi desastre nenhum!”.

Talvez noutras circunstâncias não o seria, mas tendo também o CDS baixado os seus valores para quase metade do habitual, gostaria de perguntar a Rui Rio: para onde fugiram também estes votos? Será que se dividiram pelos novos pequenos partidos, como a Iniciativa liberal ou o Chega, ou será que foram para o PSD, numa espécie de “voto útil”? Se de facto foram para o partido de Rio, não será evidente que muitos dos antigos eleitores sociais-democratas lhe viraram as costas e escolheram, ironicamente, votar em António Costa?

Quero também criticar a posição alheada e indiferente em que Rio se coloca em relação à iniciativa privada e à tentativa de proteger as empresas e os trabalhadores. No site do PSD é citado Francisco Sá Carneiro, fundador e líder histórico do partido, que em 1979 dizia que, “para nós, sociais-democratas, para qualquer político que encare a política como serviço do seu país, sem melhoria das condições concretas dos portugueses não há política que valha a pena, não há especulações que justifiquem, não há cenários que motivem ninguém. E um caminho desses seria a ruína da própria liberdade e da própria democracia.”

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Estará Rio a falhar num dos principais objetivos dos sociais-democratas – a luta por melhores condições para os portugueses – e levará esta atitude à ruína da própria liberdade e democracia, tal como as conhecemos?

Talvez esta carta nunca chegue a Rui Rio, uma vez que parece que para ele a comunicação social não é algo com que um governo se deva preocupar. Numa altura de pandemia, em que as pessoas não podem sair de casa e comprar jornais, o presidente do PSD afirmou que “as empresas de comunicação social são iguais às que fabricam móveis, sapatos, têxteis”.

A comunicação social está em perigo, as receitas económicas baixaram e muitos jornalistas estão no desemprego ou em lay-off. Isto num momento de pandemia em que é fundamental combater as chamadas “fake news” e em que nunca foi tão necessária uma comunicação social séria e credível.

Aproveito esta carta também para fazer um apelo para que Rui Rio largue de uma vez por todas a sua atitude de indiferença e passividade – que começou nas legislativas e se prolonga até hoje – e assuma o seu papel de líder da oposição. Caso não o faça, peço que tal como saiu de livre vontade da sua bancada parlamentar a 24 de março de 2020, numa atitude que, na minha opinião, chegou a roçar o ridículo, aproveite para sair também da liderança do PSD.

Dirijo-me agora a Francisco Rodrigues do Santos, presidente do CDS. Começo por louvar a sua coragem: a verdade é que “Chicão”, como ficou conhecido na Juventude Centrista, encontrou o caos no CDS deixado por Assunção Cristas, um partido sem liderança e sem apoiantes, em desagregação.

A tarefa de recompor o partido é difícil, mas mais difícil ainda será para uma direção com pouca experiência, cheia de jovens com muitos sonhos e com os pés bem longe da terra. Para melhorar este panorama, o CDS encontra-se dividido, Rodrigues dos Santos é alvo de críticas internas e é visto como um “controlador”. Dizem que a união faz a força e talvez seja isso que esteja em falta no Centro Democrático Social.

O líder do partido disse mesmo: “Peço aos avós e aos pais que acreditem em mim como acreditam nos seus netos e filhos. Aos jovens, aos da geração acima e abaixo, acreditem no CDS em Portugal, porque Portugal precisa de nós”. Gostaria de saber, porém, em que CDS devemos acreditar? No CDS do “Chicão”, dividido e cheio de lutas internas, ou no CDS sem apoiantes, enfraquecido e dividido, que nem parece ser visto como um perigo para os partidos da chamada “Geringonça”?

A política não é uma atividade em que eu esteja particularmente envolvida, mas tenho sentido uma preocupação acrescida neste momento da minha vida. Em qualquer País e em qualquer democracia é importante existirem partidos de direita, de centro e de esquerda. Sem a existência de uma oposição forte ao governo, é o próprio governo que piora. Não existem alternativas. É, por isso, importante que, como cidadãos, estejamos preocupados e nos possamos envolver mais no futuro de Portugal.

Nesta carta aberta, não tenho como objetivo atacar uma parte do parlamento, mas apenas tentar agitar as consciências, tentar alertar para a necessidade da existência de uma oposição construtiva, que possa evitar que cresça a indiferença perante a política. Porque sem políticos e partidos não existe democracia.

Por fim, quero viver num país em que a população volte a sentir que quer fazer parte da política ativa, mas para isso é preciso também que a política – e quem a faz – queira fazer parte da vida da população. A indiferença é a melhor amiga dos extremismos.