O cancro do pulmão é a doença oncológica com maior mortalidade em todo o mundo. Em Portugal, foram diagnosticados um total de 5415 novos casos em 2019, de acordo com dados da GLOBOCAN, colocando este tumor numa posição de muito impacto relativamente ao total dos cancros diagnosticados nos dois sexos, nomeadamente com mortalidade superior à dos cancros do cólon, mama e próstata combinados.

Os fatores de risco de desenvolvimento do cancro do pulmão vão desde os estilos de vida, sendo o tabagismo o principal fator desencadeante, a idade – entre os 50 e 75 anos, mas também a exposição a agentes cancerígenos ocupacionais/ambientais, radioterapia prévia, risco genético ou familiar e patologias como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica ou fibrose pulmonar.

Atualmente, apenas 25% dos doentes com Carcinoma Pulmonar de Não Pequenas Células (CPNPC) são não-fumadores, pensando-se que possam existir dois tipos de cancro do pulmão com diferentes características, o do pulmão do fumador e o do pulmão do não fumador – e que estes, mesmo em doença avançada, apresentam diferentes prognósticos e sobrevidas, assim como diferentes impactos na qualidade de vida.

As vantagens de integrar um programa de deteção precoce de cancro do pulmão e os benefícios de deixar de fumar são da maior importância, dadas as conhecidas dificuldades em implementar rastreios neste tipo de tumor, apesar de se tratar de uma das neoplasias que mais mata. Isto acontece porque o diagnóstico continua a não ser feito com a rapidez devida. O diagnóstico tardio pode depender de várias razões, nomeadamente pelo facto de ser uma doença muitas vezes silenciosa, ou pelo tempo que o doente demora a procurar apoio médico, ou do seu envio em tempo útil para centros especializados.

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As campanhas de sensibilização à população têm de ter em conta que este tumor está associado numa grande maioria dos casos ao tabaco, existindo nesta altura uma consciência muito grande do peso deste tumor nos grupos de risco: grandes fumadores com mais de 45 e 50 anos e carga tabágica elevada. Por estas razões, a CUF Oncologia reforçou o seu Programa de Deteção Precoce de Cancro do Pulmão, com equipas especializadas no diagnóstico e seguimento desta população de risco. A precisão no diagnóstico é fundamental para a escolha da estratégia terapêutica a adotar, caso se confirme a deteção de cancro do pulmão.

Assim, alertar no Dia Mundial Sem Tabaco, para a importância de não fumar, é um dever da comunidade científica, particularmente dos profissionais de saúde que todos os dias lutam contra o cancro do pulmão. Aos fumadores, deixo uma mensagem: parem de fumar. Para além de todos os riscos inerentes ao tabaco, nomeadamente cardiovasculares, neoplásicos e outros, pode correr o risco de desenvolver um tumor que se pode manter até uma fase tardia assintomático e que, mesmo em fase precoce, pode não apresentar condições cirúrgicas, pelos malefícios que o tabaco pode já ter provocado no seu organismo, impossibilitando, por exemplo, uma anestesia.

De acordo com os dados publicados por vários estudos científicos (como o National Lung Screening trial e o NELSON trial), as consultas de diagnóstico precoce do cancro do pulmão em grupos de risco contribuem para a probabilidade de redução de 20% das mortes por cancro do pulmão e a consequente possibilidade de tratamentos efetivos em estádios mais precoces, com maior probabilidade de cura.

Dos métodos testados, o que mais próximo está deste objetivo é a TAC torácica de baixa dose de radiação, com poucos riscos de radiação pela sua baixa dose e que já está a ser utilizada nas consultas de deteção precoce.

É da maior importância a sensibilização de doentes de risco para a consulta de deteção precoce e a atenção dos médicos assistentes, nomeadamente de Medicina Geral e Familiar, para o encaminhamento atempado dos doentes, o que poderá fazer a diferença no aumento de sobrevida pela possibilidade de os doentes serem diagnosticados em fases precoces da doença.

É também de considerar oferecer aos doentes a possibilidade de um rápido encaminhamento para a consulta anti-tabágica, numa altura em que este se encontra motivado, podendo ser uma resposta às necessidades destes doentes, muitas vezes com sérias dificuldades na suspensão deste hábito. O rápido encaminhamento para a equipa multidisciplinar envolvida na cessação tabágica, permite desenvolver um plano estruturado e personalizado que vá de encontro às necessidades do fumador complexo, tendo como principais intervenientes nesta equipa, para além da Pneumologia, a Enfermagem, a Nutrição e a Psicologia.

Este apoio, numa altura de alta motivação, poderá ter maior capacidade de êxito, melhorando a taxa de sobrevivência do cancro do pulmão, principalmente, como referi, nas pessoas que pertencem a grupos de risco, como grandes fumadores de mais de 30 UMA (número de cigarros fumados por dia por maço, vezes o número de anos a fumar), ou ex-fumadores há menos de 15 anos e com idades compreendidas entre os 50 -75 anos.

Sabe-se que o consumo de tabaco é uma das principais causas evitáveis de doença e de morte prematura, sendo que o mesmo é responsável anualmente pela morte de mais de 8 milhões de pessoas em todo o mundo.

Como mensagem final, gostaria de reforçar que os programas de deteção precoce são fundamentais para identificar o cancro do pulmão em estádios iniciais e aumentar as hipóteses de sobrevivência associados a um adequado programa de cessação tabágica. Assim, se pertence a este grupo de risco, não adie a procura de cuidados de saúde, mesmo em contexto de pandemia: os programas existem e a sua saúde está primeiro.