À primeira vista, é como olhar para o horizonte e tentar entender como o sol e a lua podem dançar no mesmo céu. Parece absurdo, quase uma fantasia, imaginar que eleitores e cidadãos possam trilhar um caminho que os leve dos confins de um extremo ao outro do vasto espectro político. Mas, à medida que nos permitimos mergulhar nas profundezas da reflexão, descobrimos que essa ideia, por mais extravagante que pareça, revela-se tão verdadeira quanto as estrelas que cintilam no firmamento. Aqui, a teoria da ferradura surge como uma musa inspiradora, tecendo uma poesia conceptual que nos convida a explorar os mistérios da política. Ela nos sugere que a extrema-esquerda e a extrema-direita, longe de serem polos opostos em um espectro político linear e previsível, na verdade se aproximam. Como os extremos de uma ferradura que se encontram em um ponto focal, essas ideologias convergem para um destino comum: a centralização totalitária do poder no Estado. Assim como as estações do ano se entrelaçam em um ciclo eterno, as polaridades políticas se unem em um abraço silencioso. A jornada dos extremos nos leva por caminhos tortuosos, onde a luz e a sombra se entrelaçam em uma dança cósmica. E no coração desse turbilhão de ideias, descobrimos que a verdadeira essência da política reside na busca incessante pela harmonia entre as forças opostas, onde a dualidade se transforma em unidade e a contradição se dissolve na poesia do entendimento.

Neste intrincado bailado de ideias, os extremos políticos se envolvem em uma dança de dicotomias, tecendo narrativas que destacam as angústias centrais de suas ideologias. Simplificadamente, essa dualidade retrata um grupo representado por um partido e sua visão, lutando contra um inimigo que transcende as fronteiras da população. Esse adversário, cego aos interesses nacionais, revela-se uma ameaça que corteja apenas seus próprios interesses, deixando o povo à mercê de seus danos. Das entranhas turbulentas da história emergem as sementes desta teoria, lançadas pelos jacobinos na efervescência da Revolução Francesa. Como trovões no céu tempestuoso, eles apontaram o dedo acusador para o Antigo Regime, a burguesia e a Igreja Católica, como fontes de injustiça e desigualdade, erguendo-se como sentinelas sombrias no caminho da igualdade e da justiça. E assim, seguindo os ecos dessas vozes revolucionárias, Marx e Engels entoaram um coro de denúncias, desafiando as estruturas opressivas que permeavam a sociedade, erguendo-se como muralhas contra o avanço da tirania. Nesse palco de espelhos e sombras, os partidos fascistas de direita se lançaram em uma dança perigosa, apropriando-se dessa dualidade como lâminas afiadas. Invertendo os polos da verdade, eles apontaram os dedos acusadores para os círculos de esquerda e os marxistas, retratando-os como inimigos da nação. No ecoar dessas acusações, torna-se claro que ambos os lados compartilham segredos sombrios, traços autoritários que se entrelaçam como espinhos na teia da democracia. Uma aversão à liberdade liberal e um anseio por mudanças radicais ecoam no coração desse palco, impulsionados por motivações tão distintas quanto as sombras e os raios de uma noite de tempestade.

Neste grande teatro das ideias, é como se os ventos do destino soprassem pelos corredores da política, revelando um intrigante enredo de semelhanças entre os partidos radicais ou populistas contemporâneos. Eles erguem suas vozes contra uma “elite corrupta”, que parece erguer muralhas contra os anseios do povo e da nação. No centro deste palco, surge uma dualidade tão antiga quanto o tempo, onde o “povo puro” enfrenta a sombra sinistra da “elite corrupta”, clamando por uma política que ecoe a vontade geral. Neste solo lusitano, onde as pedras guardam segredos ancestrais, o Chega ergue sua bandeira contra uma “elite corrupta” que tece teias de corrupção, moldando o destino do país sob a égide de uma elite globalista. Na sinfonia das palavras políticas, o PCP e o Bloco de Esquerda entoam seus cantos, apontando para a “elite” e seus traços capitalistas e nacionalistas. Mas, em meio às sombras e aos clarões, o Bloco de Esquerda tece um manto de pensamento pós-marxista, como uma auréola intelectual, sob os olhares atentos de mentes iluminadas como Chantal Mouffe, Ernesto Laclau, Jacques Derrida e Foucault. Assim, os indivíduos seguem por um caminho tortuoso, oscilando entre os extremos do espectro ideológico, como viajantes em um labirinto de contradições. Suas jornadas ecoam os passos de Mussolini, que um dia se entregou às sombras do socialismo e do marxismo, apenas para abandoná-las abruptamente, trilhando um novo rumo marcado por medidas drásticas contra os pensamentos que um dia acalentou. Na tapeçaria dos acontecimentos, na França dos anos 80, o declínio do Partido Comunista se entrelaça com o surgimento da direita radical, como uma dança cósmica envolta na mística da “teoria da ferradura”. Neste cenário de sombras e luzes, os cidadãos dançam entre as incertezas, mudando seus apoios políticos como navegantes em um oceano de dilemas, num movimento que reflete os caprichos da alma humana.

Neste palco onde a política se desenrola como uma peça teatral, as recentes eleições de 2024 em Portugal se tornam um capítulo compreensível, se mergulharmos nas águas profundas da história e da sociedade. Por que isso acontece? Portugal, como uma tapeçaria de memórias entrelaçadas, tem suas raízes fincadas mais à esquerda do espectro político ao longo do período democrático. No entanto, como folhas ao vento, testemunhamos um declínio significativo do Partido Comunista na região do Alentejo, uma terra onde as sombras do passado ecoam entre as oliveiras. Em 1976, as urnas ecoaram com os suspiros de 126 mil vozes, um coro que ecoava pelas terras do Alentejo, batizadas como o “bastião comunista”. Mas ao longo das estações, o vento da mudança soprava, trazendo consigo uma dança de danos e despedaçares. O PCP, outrora uma árvore frondosa, viu suas raízes enfraquecerem, perdendo seus galhos na região, como folhas que caem no outono. Nesse turbilhão político, surge uma nova constelação no céu noturno, uma estrela que desafia as sombras do declínio. O CHEGA, como um falcão emergindo das sombras, eleva-se para o horizonte, seu voo marcado pela determinação e pela vontade de contrapor a queda do PCP. Em Beja, suas asas se estendem sobre os campos, registrando uma percentagem de 21,55%, um eco que ressoa além das fronteiras do tempo. Em Portalegre, suas garras afiadas deixam sua marca, com 25,49% contra os humildes 5,94% do PCP. E em Évora, suas penas negras cortam o céu, com 19,96%, enquanto o PCP, outrora um gigante adormecido, se curva diante dos novos ventos da mudança, com 10,93%. Mas nessa dança cósmica da política, a teoria da ferradura surge como um farol entre as tempestades, iluminando os caminhos tortuosos da história. Portugal, terra de igrejas e devoções, onde os ecos do cristianismo ressoam pelas colinas, carrega em seu seio um coração conservador, moldado pelas marés da história. As recentes “crises” migratórias que assolam o país e suas regiões interiores ecoam como trovões no céu, desafiando as fundações de uma sociedade enraizada no passado. E no âmago dessas tormentas culturais, a idade média e a sabedoria dos mais velhos tecem uma tapeçaria de valores conservadores, onde a promoção de ideologias progressistas (ideologia de género, entre outras) ecoa como um trovão em uma noite estrelada, despertando preocupações e questionamentos nas mentes antigas.

Essa mudança radical, como uma dança das marés, reflete as ondas turbulentas das “crises” migratórias e as correntes de mudança das políticas progressistas que ecoam pelo espectro cultural. Elas banham uma região interior, enraizada em tradições antigas e tendencialmente mais conservadora, como uma chuva suave que acalenta as sementes do passado. Assim, a transformação abrupta do Alentejo, outrora um “bastião comunista”, em um bastião do Chega, não é tão surpreendente quando se consideram as nuances sociais e culturais mais profundas, como um rio que molda a paisagem ao longo dos séculos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR