A produção de água potável através da dessalinização da água do mar é uma necessidade imperiosa para combater a reconhecida crise da escassez de água. Ao contrário de Espanha, onde existem numerosas unidades de dessalinização que produzem um total de mais de 1 milhão de metros cúbicos por dia, em Portugal apenas existe uma unidade de cariz industrial, construída há 40 anos em Porto Santo, com uma capacidade de 6.900 m3/dia. Além desta, existem pequenas unidades que servem a indústria hoteleira no Algarve.

Reconhecendo esta necessidade, a Admar reuniu um grupo de investidores portugueses que decidiram apostar na instalação de unidades de dessalinização em Portugal, para satisfazer as necessidades atuais e futuras do consumo doméstico, da agricultura e da indústria (particularmente na produção de hidrogénio verde). A solução está a ser estudada para servir a zona de Sines e abastecer os agricultores da zona de Odemira. Em relação ao consumo doméstico, os promotores estão a estudar a instalação de uma unidade para servir o Concelho de Cascais, indo ao encontro do interesse expresso pela autarquia em apostar na dessalinização.

Depois de estudar várias alternativas de tecnologias de dessalinização, concluiu-se que a que reúne mais vantagens baseia-se numa solução subaquática norueguesa, desenvolvida pela Waterise, que se destaca pela sustentabilidade energética e ambiental, flexibilidade de instalação e bons desempenhos operacionais.

Eficiência energética

Tipicamente, uma central de dessalinização instalada em terra gera um elevado consumo de eletricidade, em boa parte pela necessidade de bombear a água do mar a pressões muito elevadas durante o processo de osmose inversa. A solução da Waterise passa também pela osmose inversa; no entanto, como os sistemas são instalados no fundo marinho, é possível tirar partido da pressão da coluna de água em profundidade reduzindo assim em 35 a 40% o consumo energético exigido, quando comparado com as centrais em terra.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Redução drástica de impactes ao ambiente marinho

Enquanto produz água dessalinizada, o processo de osmose inversa resulta também na geração de um volume significativo de salmoura, ou seja, água saturada de sal, a qual tem efeitos  nocivos à vida subaquática.

Um dos impactes ambientais mais negativos da operação das centrais de dessalinização terrestres, como aliás tem sido objeto de crítica em países como Espanha, Israel e Estados Unidos, é a emissão de salmoura de volta ao meio marinho, uma vez que se trata de um produto que impacta o habitat subaquático em áreas costeiras, de pouca profundidade.

Paralelamente, a própria tomada de água para abastecer a central, a montante da dessalinização, acaba por aspirar crustáceos, microalgas e outros organismos marinhos

A solução da Waterise não provoca qualquer impacto nestes habitats. Por um lado, a salmoura nesta solução tem um nível de salinidade muito inferior àquela proveniente de centrais em terra. Por outro lado, uma vez que a toma de água e a emissão de salmoura são efetuadas em zonas oceânicas de grande profundidade onde praticamente não existe vida marinha, a solução da Waterise representa um avanço muito significativo do ponto de vista da conservação dos ecossistemas marinho evitando a destruição tipicamente verificada em soluções terrestres de dessalinização.

Finalmente, ao ser tomada em profundidade, a água utilizada no sistema Waterise não requer o emprego dos agentes químicos exigidos nos sistemas de filtragem prévios ao processo de osmose inversa presente nas centrais terrestres, tornando todo o processo mais verde.

Redução do impacto ambiental e humano em terra

As soluções em terra para dessalinização passam invariavelmente pela necessidade de construção de grandes instalações em terrenos junto à costa. Como sabemos, as faixas costeiras em Portugal que não estão inseridas em Parques Naturais ou zonas de proteção da natureza estão já sujeitas a uma elevada pressão demográfica e económica. A solução apresentada pela Waterise tem também vantagens neste ponto, uma vez que a maior parte da central se encontra instalada no leito oceânico libertando assim a necessidade de espaço em terra.

Sistema modular que oferece flexibilidade e rapidez ao off-taker

A instalação da solução da Waterise é feita por módulos independentes que podem ser agregados à medida que se verifique um incremento na procura de água. A tecnologia subaquática é a mesmo utilizada há décadas na indústria da exploração petrolífera pelo que os materiais e equipamentos estão rapidamente disponíveis. Isto quer dizer que uma central subaquática pode ser instalada, ou expandida, dentro de períodos de tempos significativamente mais reduzidos dos que uma solução em terra.

No que respeita aos custos de operação e manutenção, a solução da Waterise apresenta economias devido a vários fatores, nomeadamente o menor desgaste das membranas utilizadas para o processo de osmose inversa quando comparado com as suas congéneres terrestres.

Finalmente, no que se refere ao investimento inicial requerido, e ao preço final de venda da água dessalinizada, estes comparam-se favoravelmente aos praticados nas soluções terrestres tradicionais.