É um artigo que exige alguma reflexão e nomeadamente algum estudo, sendo que não existem provas evidentes, da ligação entre a perda auditiva e o esgotamento por burnout. Antes de desenvolver o tema, é bom perceber a quantidade de mecanismos que envolve a audição, e mesmo quando esta não se processa da melhor forma possível – em caso de perda auditiva -, dependemos de outros factores para que a “comunicação oral” seja conseguida.

Quando uma pessoa com deficiência auditiva depende de tecnologias para que a percepção seja feita, essa dependência também acontece em consequência do resultado, de procedimentos que são por exemplo, leitura labial atendendo e proporcional à dificuldade auditiva do sujeito. Maior ou menor dificuldade definido pelo espaço envolvente, tais factores como o ruído e até mesmo da iluminação, o auxílio de recursos como a legendagem (escrita) e os sinais gráficos ou luminosos poderão ajudar na descompressão cerebral de procedimentos na compreensão oral. No entanto, o uso de aparelhos auditivos mais robustos, como implantes cocleares e próteses auditivas tecnologicamente mais avançadas, poderão ajudar no sentido em que o processamento e a supressão de ruído é realizada de forma mais eficiente.

Partindo do pressuposto que a audição humana é bastante complexa, gostaríamos de passar a seguinte definição: O processo auditivo começa com a captação do som pelo ouvido externo, que direciona o som para o canal auditivo. O som atinge o tímpano, que vibra e transmite essas vibrações para os ossículos no ouvido médio. Esses ossículos amplificam as vibrações e as enviam para a cóclea, no ouvido interno. A cóclea contém células ciliadas que convertem as vibrações em sinais elétricos, que são enviados pelo nervo auditivo para o cérebro. O cérebro então processa esses sinais e os transforma em sons que podemos entender.

Quando se depende de tecnologias auditivas como os implantes auditivos, parte deste processo torna-se mais reduzido, mas mais complexo porque está dependente da qualidade de calibração do aparelho auditivo. No caso  das próteses auditivas, o processamento auditivo acaba por ser um pouco mais próximo do natural não obstante a apropriada calibração.

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A parte comum é que o nosso cérebro processa os sons e dá-se a compreensão oral dos mesmos, como resultado da reavivação de memória auditiva, no reconhecimento e na aquisição, e posteriormente, os estímulos que correspondem aos determinados sentimentos e reacções da pessoa a ouvir por processos neurológicos.

Assim, o córtex auditivo é a parte do cérebro que processa os sinais elétricos enviados pelo nervo auditivo. Ele é responsável por interpretar esses sinais e transformá-los em sons que podemos entender. O córtex auditivo é dividido em várias áreas, cada uma responsável por diferentes aspectos do som, como tom, volume e localização. Quando ouvimos um som, o córtex auditivo recebe esses sinais elétricos e começa a processá-los. O processo cognitivo envolvido na audição humana é muito complexo e ainda não é completamente compreendido pela ciência.

Não há evidências científicas que sugiram uma relação direta entre burnout e deficiência auditiva. No entanto, é possível que pessoas com deficiência auditiva possam estar em maior risco de burnout devido a fatores como o “stress” adicional de ter que lidar com a comunicação e a interação social em ambientes de trabalho que não são adaptados às suas necessidades. Além disso, a deficiência auditiva pode levar a uma sobrecarga cognitiva, que pode ser um fator de risco para o burnout. No entanto, é importante lembrar que o burnout é um fenómeno complexo e multifacetado, e que pode ser influenciado por muitos fatores diferentes. A ajuda preciosa de recursos como auxílio à escrita ou legendagem, a tecnologias assistivas, ou que permitam a melhor acessibilidade dificultarão a uma aproximação à situação de burnout. Bem como na melhor leitura labial, ou nas melhores condições de iluminação e de sinalização, ou acústicas com menos ruído.

Lembramos o caso da época da pandemia de covid, em que o uso de máscaras dificultava a comunicação oral, e não apenas nas pessoas com deficiência auditiva, por abafar o som e não permitir a leitura labial…

O burnout pode ser causado por uma combinação de fatores, incluindo o ambiente de trabalho, as condições de trabalho e as características pessoais do indivíduo. Algumas causas comuns de burnout incluem: excesso de trabalho, falta de controlo sobre as tarefas, falta de apoio social e emocional no trabalho, conflitos interpessoais, falta de reconhecimento pelo trabalho realizado, e desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Além disso, fatores como personalidade, história de vida e experiências de vida também podem desempenhar um papel no desenvolvimento do burnout.

O burnout pode ter várias consequências negativas para a saúde física e mental do indivíduo. Alguns exemplos incluem: fadiga crónica, insónia, dores de cabeça, problemas gastrointestinais, depressão, ansiedade, irritabilidade, dificuldades de concentração e problemas de memória. O burnout também pode afetar negativamente o desempenho no trabalho e a qualidade de vida em geral. Se não for tratado, o burnout pode levar a problemas de saúde mais graves, como doenças cardiovasculares e problemas imunológicos. Portanto, é importante reconhecer os sinais e sintomas precoces do burnout e procurar ajuda profissional se necessário.

A ligação entre a deficiência auditiva e o síndrome de burnout continua a ser alvo de estudo e por parte de sondagens dentro da comunidade de pessoas com deficiência auditiva, dos surdos oralistas em particular. A OMS considera que este problema é derivado de uma quantidade de factores e de “sobrecarga” cognitiva. Na verdade o esforço para compreender uma determinada conversação, oralmente, por uma pessoa com deficiência auditiva, é muito maior do que o que uma pessoa sem perda auditiva faz. E para finalizar, relançamos aqui novamente a questão: Será que existe ligação entre a deficiência auditiva e o burnout? Ou será que há um misto de situações que poderão levar ou acarretar a esta situação, partindo também do pressuposto que existem problemas pessoais, em que alguns até podem derivar da deficiência auditiva?

Urge assim, sensibilizar a sociedade, os órgãos governativos, as empresas que possuem nos seus quadros pessoas com este problema e as unidades prestadoras de cuidados de saúde para a premência de suscetibilidade acentuada ao padecimento do fenómeno de burnout por parte das pessoas com deficiência auditiva. Devendo assim, sempre que possível, mitigar os constrangimentos à boa comunicação verbal e apelando a uma maior compreensão dos intervenientes quando são confrontados com as necessidades especiais e específicas destas pessoas.