No dia 20 de novembro foi publicada uma sondagem realizada pelo ISCTE/ICS, designada “Portugal e o futuro”, na qual os inquiridos afirmaram que, em 2030, Portugal estará com mais impostos (77%), mais endividado (69%), mais desigual (66%), mais desertificado (56%) e mais precário (54%). Adicionalmente, a sondagem obteve mais opiniões negativas do que as positivas sobre as perspetivas dos portugueses quanto ao futuro do seu nível de vida, da qualidade dos serviços públicos ou da posição da economia portuguesa em relação aos países mais ricos da Europa.

Também no mês de novembro, a Fundação Francisco Manuel dos Santos, publicou um estudo designado “os jovens em Portugal, hoje” baseado numa amostra de 4900 jovens entre os 15 e os 34 anos, representativos de um universo de 2,2 milhões de portugueses. Os resultados deste estudo são devastadores. A maioria dos jovens considera que há cada vez menos oportunidades para encontrar emprego em Portugal (78%). Um terço afirma não ter frequentado o ensino superior por falta de dinheiro. Cerca de um quarto já tomou medicação psiquiátrica e 23% já tentou acabar com a sua vida ou pensou nisso. Quase um terço gostaria muito de ir viver para o estrangeiro e 39% têm dificuldade em viver com o rendimento que auferem. Algo absolutamente compreensível, uma vez que 53% dos inquiridos recebem menos de 767€ líquidos por mês e apenas 49% têm um contrato efetivo.

Já neste mês de dezembro, foram divulgados os resultados do Barómetro Global da Corrupção, produzido pela Transparency International, no qual 88% dos cidadãos portugueses inquiridos consideram que existe um problema de corrupção no Governo.

Estamos, portanto, perante um panorama sombrio, de desalento, descrença e desesperança. Algo está profundamente errado quando a maioria da população olha para o seu futuro desta forma, quando os jovens vêm na emigração a sua melhor alternativa e quando os políticos caíram neste descrédito.

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Não podemos continuar assim. Tal como disse Álvaro Beleza no seu discurso de encerramento do V Congresso da Sedes, não nos podemos conformar “com o crescimento médio anual de 0,73% registado na economia portuguesa entre 2001 e 2019”, “com uma taxa de IRC que é hoje a segunda mais alta da Europa em termos nominais, podendo o Estado apropriar-se de 50,7% dos resultados gerados por uma empresa”, “com o facto de os salários médios em Portugal terem caído 3% em termos reais face a 2000”, “com a existência de 900 mil portugueses sem médico de família”, “com o facto de Portugal ser o país europeu onde mais alunos pagam propinas para frequentar o ensino secundário”, “com a morosidade, o corporativismo e a aversão à mudança na justiça, que repele investimento estrangeiro e subtrai a confiança no Estado de Direito, “com um sistema eleitoral impávido e sereno perante o crescimento da abstenção, que nas últimas legislativas atingiu o nível recorde de 51%”.

Eu acrescento que não podemos aceitar que um cidadão demore 5 gerações a sair da pobreza e que uma parte significativa da população não tenha acesso ao ensino superior por falta de meios. Não podemos continuar a ser um país onde os jovens se vêm aflitos para ter filhos. Não podemos deixar que Portugal se torne no país mais pobre da Europa e que daqui a 25 anos a reforma de um português corresponda a menos de metade do seu último ordenado, tal como prevê a Comissão Europeia.

No seu discurso na Associação Nacional dos Autarcas do PS, António Costa defendeu o seu legado dizendo que “nada seria pior para o país do que parar esta dinâmica”. Eu lamento dizer, mas esta dinâmica parece-me poucochinho e os portugueses merecem muito melhor.

Mudar é urgente. Vivemos tempos apenas comparáveis aos da revolução industrial, caracterizados por avanços científicos e tecnológicos avassaladores. Nesta nova era do conhecimento e da inteligência artificial, em que o talento é o principal ativo de qualquer país, não podemos continuar a deixar fugir os nossos jovens mais qualificados. Temos de criar as condições para afirmar Portugal como um paraíso para se estudar, viver, criar família, trabalhar e empreender.

Sabendo que Portugal é o 2º país com menos crianças em percentagem da população da Europa é urgente implementar uma política concertada de combate ao inverno demográfico, com fortes apoios à natalidade, à habitação e ao emprego para os jovens.

Por outro lado, temos de promover o equilíbrio intergeracional. Temos de deixar de ter estas 2 sociedades. De um lado as gerações do trabalho precário, com uma taxa de desemprego alta e perspetivas de uma reforma baixa. Do outro lado as gerações com trabalho garantido e com reformas que ainda representam 75% do seu último ordenado.

Está na hora de pensar a política com um horizonte de longo prazo, para que as futuras gerações não tenham de herdar uma dívida superior a 130% do PIB, um planeta a derreter e uma reforma miserável. Para que os nossos filhos e netos possam usufruir de uma educação adaptada ao mercado de trabalho do futuro e beneficiar de uma saúde preventiva, suportada pelas novas tecnologias, bem planeada e verdadeiramente universal.

Está na hora de construirmos uma sociedade mais equitativa nas oportunidades que oferece aos seus cidadãos. Uma sociedade menos marcada por cunhas e mais fértil em empreendedorismo e inovação. Está na hora de mudar.

19 de dezembro de 2021