Fico pasmado com o orgulho e desfaçatez com que algumas pessoas dizem essa frase, justificando de uma forma inábil (e infantil) o comentário pejorativo que acabaram de proferir.

Para esse tipo de pessoas, ofender e depreciar são duas ações perfeitamente aceitáveis, desde que no final acrescentem as palavrinhas mágicas: “Eu sou assim, digo tudo o que penso”.

Na sua visão, dizer essa frase legitima qualquer ofensa feita. Como se os tornasse isentos de culpa, caso a outra pessoa se sinta magoada.

Ser honesto não significa que tenhamos de estar a toda a hora a dizer o que pensamos. As pessoas verdadeiras não dizem tudo o que lhes passa pela cabeça. Não precisam de dizer tudo o que lhes passa pela cabeça. Ser verdadeiro é dizer aquilo que é necessário, com inteligência.

O bom senso mostra-nos que há momentos em que é preferível guardarmos para nós certos comentários. Há alturas em que todos ganhamos se não exteriorizarmos determinada opinião ou pensamento.

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Por outro lado, a inteligência emocional mostra-nos que algumas opiniões devem ser ditas com desvelo. Ser sincero, sim. Mas escolher bem as palavras com que o fazemos.

Ter um cérebro e ser livre é maravilhoso. Mas a liberdade e a massa cinzenta acarretam uma responsabilidade: ler a sala, identificar a audiência e perceber quando devemos falar, e quando devemos manter-nos em silêncio. Não por cobardia. Não por dissimulação. Mas por empatia.

Pela capacidade de, por uns momentos, sairmos de nós e colocarmo-nos no lugar do outro, percebendo que o nosso comentário não acrescentará nada de útil e que o seu único efeito será a mágoa da pessoa.

Perante esta consciência, porque é que avançamos na mesma? Que indiferença é esta que nos faz dizer certas coisas, mesmo sabendo que a única consequência será o sofrimento da outra pessoa? Ferir o orgulho, destruir a auto-estima, minar a confiança — o que um “simples” comentário pode despoletar.

Sendo um defensor da liberdade de expressão e sabendo que este traço de personalidade não se extinguirá, proponho que essas pessoas corrijam a frase para: “Eu sou assim: não tenho bom senso, educação, nem sentido de oportunidade. Por isso é que digo tudo o que penso”.