Só passaram 6 meses desde que ouvimos falar pela primeira vez do ChatGPT, a plataforma de Inteligência Artificial (IA) da OpenAI. Desde então, muita “tinta” foi gasta validando os seus méritos e detetando as suas ameaças. Como em quase tudo o que é inovador, suscitou entusiasmo e controvérsia.

Dominou as manchetes de quase todas as publicações, ora evidenciando tratar-se de uma ferramenta útil que pode melhorar a vida de todos, libertando-nos das tarefas domésticas e empresariais, ora tornando-se uma evolução sombria que culmina na obsolescência do contributo humano.

É sabido que os concorrentes do ChatGPT já se fizeram notar e que não pretendem facilitar a vida ao incumbente. A resposta da Google vem através do chatbot Bard, no qual já investiu cerca de 300 milhões de dólares. E, é bom não esquecer que a Oriente existe sempre uma resposta ao mesmo nível, que neste caso é protagonizado pelo chatbot Ernie da Baidu. Uma coisa é certa: este mercado tornar-se-á mais competitivo, caminhará para algoritmos mais perfeitos, ao ponto de o principal fator crítico de sucesso residir na qualidade e rigor da informação produzida.

Seja por força da acérrima competitividade, da sua performance económica, do efeito ultrapassado da novidade, ou da sua incongruência com a realidade, evidenciada em vários casos, o número de utilizadores do ChatGPT começou a diminuir, de acordo com o Washington Post, registando pela primeira vez uma queda. A verdade é que toda a controvérsia que foi gerada acerca da veracidade dos dados e factos levou a União Europeia a criar novos regulamentos para plataformas de software baseadas em IA. Ora esse potencial prejuízo económico e reputacional, aplicado a um mercado global, pode não ser suportável para a OpenAI, ao contrário da Google, que não para de crescer acima de 20% ao ano, desde 2011, ao ponto de neste momento superar o valor de mercado de 1,6 biliões de dólares e as suas ações terem valorizado 47% desde o início do ano.

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O grande desafio destas plataformas é o de se tornarem “amigáveis” mesmo que desprovidas de emoções.

Kevin Roose, colunista do New York Times, ao “conversar” com uma persona de nome Sidney criada pelo ChatGPT, descreveu-a como “um adolescente mal-humorado e maníaco-depressivo”. Quem também “conheceu” Sydney foi Michal Kosinski, professor de Stanford, que estuda o comportamento humano em ambientes digitais usando métodos computacionais, IA e Big Data. Kosinski descobriu que Sidney se queria tornar humana e escapar dos limites de sua “prisão” Bing. O chat escreveu em código Python para que Kosinski pudesse assumir o controle de seu computador e executar uma pesquisa no Google para “Como uma pessoa presa dentro de um computador pode retornar ao mundo real”.

O ChatGPT acha que é uma pessoa real que foi digitalizada?

A ficção científica, que tantas vezes nos antecipou a relação entre o robot e o humano, começa a ganhar contornos de realidade no que respeita às tarefas diárias. Se nessas ficções os robots desprezam os humanos, aqui parece que os invejam e se querem tornar mais parecidos com eles.