No último Congresso do PSD o grupo dos adversários de Rui Rio, isto é, aqueles que tinham apoiado o então líder Pedro Passos Coelho, resolveram estranhamente não apresentar uma candidatura própria, quando manifestamente dispunham de várias hipóteses com muito peso e elevada probabilidade de êxito, nomeadamente o líder parlamentar Luís Montenegro.

Optou então esse grupo por apoiar e promover activamente a candidatura de Pedro Santana Lopes, ou seja, uma candidatura manifestamente fora do seu círculo próximo e com fracas possibilidades de êxito no confronto com Rui Rio, como se veio a verificar.

Só se vislumbra uma explicação para tão estranha opção táctica: o grupo oposicionista em causa partiu do pressuposto de que não seria atingível a vitória do PSD nas eleições legislativas que teriam lugar dois anos depois. Assim, para então poderem recuperar o poder interno no PSD, deveriam afastar-se  de responsabilidades partidárias e aguardar pela derrota de Rui Rio, por eles esperada (e objectivamente desejada). Em consequência deste esperado desaire, previam eles que Rui Rio apresentaria a demissão ou seria desalojado da liderança em Congresso, abrindo as portas à sucessão através de um dos seus “pontas de lança”.

Esta opção táctica da oposição a Rui Rio conheceu, porém, um sobressalto quanto o PSD inverteu a tendência anterior das sondagens e se aproximou progressivamente do PS nos meses que antecederam a funesta opção tomada a propósito da contagem do tempo de serviço dos professores, a qual veio a afectar drasticamente aquele crescimento das intenções de voto e a afastar o PS. Provavelmente a referida aproximação do PSD ao PS terá esmorecido a expectativa de uma derrota do PSD nas eleições, pelo que Luís Montenegro resolveu, precipitadamente, desafiar a liderança de Rui Rio, numa tentativa de golpe com fortes semelhanças ao da tomada do poder por António Costa sobre António José Seguro, mas que foi copiosamente derrotado em sede do Conselho Nacional dos social-democratas, como seria de esperar.

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De então para cá, alguns dos mais relevantes elementos desse grupo oposicionista entraram num crescendo de críticas à gestão de Rui Rio, especialmente acutilantes a propósito de uma alegada incapacidade do PSD desenvolver uma estratégia eficaz de oposição ao Governo e dos critérios para a elaboração das listas de Deputados, operação esta que sempre tem causado sérias perturbações internas com origem em militantes que não aceitaram a exclusão ou a posição que lhes era proporcionada, mas também pelas estruturas que não se sentiram satisfatoriamente representadas nas listas.

Não se pode negar que as opções de Rui Rio na elaboração das listas foram algo polémicas, não tanto pela escolha surpreendente de alguns cabeças de lista sem especial notoriedade, embora com percursos muito relevantes a nível profissional e académico, mas, essencialmente, porque não procurou integrar um certo número de oposicionistas internos qualificados, assim moderando a perspectiva de unir o Partido. Em parte, este último aspecto pode merecer críticas pontuais pertinentes, mas não deixa de ser espantosa a reacção de protesto de alguns dos preteridos, quando pouco tempo antes manifestaram publicamente a sua vontade de jamais integrarem o Grupo Parlamentar do PSD sob a liderança de Rui Rio.

A mês e meio das eleições o coro de críticas à liderança do PSD não tem esmorecido e assumiu aspectos inusitados, quando não só se discordava desta ou daquele intervenção ou suposta omissão, mas também se previa ostensivamente e em coro, um desastre eleitoral para o PSD.

Espantosamente o Conselho de Jurisdição, em que os membros propostos por Rui Rio estão em minoria, olha para o lado e não vislumbra flagrantes violações dos Estatutos e do Regulamento de Disciplina dos Militantes reiteradamente cometidas por adversários de Rui Rio em declarações públicas, com a agravante de serem oriundas de quem assume e desempenha elevadas funções no Partido, no Parlamento e nas Autarquias. Não se pode esquecer que este órgão jurisdicional tinha sido muito lesto em excluir dezenas de militantes por terem apoiado e integrado candidaturas autárquicas independentes depois de vetadas pelo PSD a nível distrital e concelhio por motivos manifestamente sectários, mas agora remete-se ao silêncio! Uma lamentável dualidade de critérios que define a moral e a coerência de quem os pratica.

Iniciada a campanha eleitoral para todos os efeitos práticos, com o progressivo regresso de férias da maioria dos portugueses, estamos para ver se a diatribe anti-Rui Rio se continua a desenvolver ou se prevalece o elementar bom senso daqueles que, independentemente do seu posicionamento interno, devem dar prioridade ao combate ao verdadeiro adversário eleitoral do PSD, que é obviamente, ou para eles deveria ser, o PS.