Nem todos despertam para a política. Mas quem sente a força desta vocação manifestar-se e pesar-lhe nos ombros, sabe do que falo. Por vezes basta uma faísca para que se sejamos consumidos pelo fogo.

Adelino Amaro da Costa foi essa faísca que despertou em mim um fogo que aguardava pacientemente. Partiu cedo, muito cedo. Mas de alguma forma permanece vivo no imaginário de quem o não conheceu, pelo testemunho dos que deixou. Pela sua alegria contagiante, pelo seu génio político, pela doutrina que generosamente partilhava, pela visão que tinha para o futuro de Portugal, pela força que dele emanava, e por muito mais. Não haveria CDS sem o Adelino e para nós não haveria Adelino sem o CDS.

Quem não ignora a história do CDS, sabe que não pode ficar indiferente ao último resultado eleitoral e sabe que o CDS não é apenas mais um partido. Sabe o quanto lhe deve pelo seu importante papel na implementação da democracia no período conturbado que se seguiu ao 25 de Abril.

O CDS nasceu porque fazia falta ao regime democrático e afirmou-se porque fazia falta aos portugueses. Porque o partido do centro foi indispensável para a obtenção dos equilíbrios necessários à implementação de uma governação consciente da finitude do uso do poder. Porque nos conduziu a uma alternativa democrática de raiz ocidental e europeia, servindo-se da mudança para evitar a rutura, impondo o reformismo e rejeitando o revolucionarismo. Defendeu a importância da iniciativa privada como motor de desenvolvimento, a necessidade do progresso acelerado como fonte de bem-estar, a redução das desigualdades sociais e a preocupação com a justiça social, pondo a economia ao serviço do homem. São alguns exemplos da síntese harmoniosa que o CDS defendeu e pode continuar a defender para Portugal.

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Sabendo que os resultados eleitorais que condenaram o CDS à ausência de representação parlamentar deixaram a direita dominada por um PSD diminuído nas suas contradições ideológicas (e com pouco para oferecer em alternativa ao PS), um partido de protesto e sem programa, e um partido liberal sem suficiente responsabilidade e consciência social, é justo que nos interroguemos: que partido estará presentemente em condições de se afirmar como alternativa ao socialismo e de representar o espaço político da direita democrática, moderada e social?

O que nos leva a uma segunda pergunta. Se o CDS pode representar um espaço político que nenhum outro partido consegue preencher atualmente e que tanta falta faz aos portugueses, porque razão não foi reconhecido pelo eleitorado? Esta é a questão essencial sobre a qual o CDS deve refletir profundamente e responder no próximo congresso. Dela, poderá depender a triste confirmação de que o CDS chegou ao fim da linha, ou uma nova esperança que permita ao CDS restaurar a sua utilidade e credibilidade junto dos portugueses.

Adelino Amaro da Costa era o grande estratega e o grande comunicador. Soube unir e criar laços internos. Soube estabelecer consensos e entendimentos por cima das divergências pessoais de cada um, promovendo assim um indispensável espírito de cooperação em torno de um objetivo comum. Soube acolher e congregar diferentes correntes de pensamento político em convergência com a matriz democrata cristã fundadora do CDS. E soube veicular as ideias do CDS, concedendo-lhes rumo, reconhecimento e utilidade.

As pessoas são a razão de ser de um partido e sem elas de nada adiantam as grandes dinâmicas conseguidas em congresso. Se a mensagem não passa, de pouco vale a bandeira na mão.

Acredito que o CDS saberá fazer o seu caminho e estou certo que, tal como eu, outros lutarão para que não morra o importante legado que nos foi confiado e que tanta falta faz a Portugal.