Passamos por uma fase difícil da história do ser humano não muito diferente das que os nossos antepassados passaram. E é em alturas difíceis que nos devemos manter mais unidos, tendo atenção ao distanciamento social, e solidários com o próximo. A solidariedade com o próximo ferve em mim um poder de empatia por quem, por força maior, terá de hipotecar o seu futuro em prol do bem familiar.

Uma equação complexa para quem não vivia de grandes rendimentos vê a equação a ter variáveis inesperadas, o lay-off ou até mesmo o despedimento. Claro está que essa equação varia de família para família sendo mais gravosos para aqueles que estudam fora da sua cidade natal, tendo de pagar rendas de quartos vazios.

De acordo com o presidente do Conselho de Reitores, “a propina não é o principal fator de exclusão” mostrando-se também preocupado com o peso do alojamento e com os estudantes que não tem acesso a meios informáticos ou dificuldades de rede. Concordando com António Fontainhas Fernandes o peso do alojamento é enorme para o orçamento familiar, mas desse lado da balança não vem só o alojamento, vem também o da propina. Sendo este lado da balança que irá determinar o futuro académico, profissional e até da realização pessoal de um universitário que me preocupa. Este lado da balança põe em causa a igualdade de oportunidade entre colegas, põe em causa a permanência na vida académica, o seguimento do s estudos e do conhecimento, e o atrasado ou a boa preparação no mercado de trabalho.

Se no nono ano escolar, aos alunos se dá a oportunidade de escolher a área cientifica para seguir o estudos, encaminhando-os para um ensino mais focado num futuro emprego, e se no décimo primeiro e segundo ano se acentuam essas escolhas, agora há quem não tenha essa oportunidade de escolha sendo o resultado o abandono precoce.

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Um abandono ou o insucesso, não por escolha, mas por imposição. São anos de investimento, e não subsídio, das famílias num futuro e numa carreira profissional. É um investimento tendo sempre retorno proveitoso para a nossa vida. Esse retorno agora não nos é garantido. Investimos num pacote de serviços e não recebemos a totalidade que me garantiram.

Não usufruímos das instalações da Universidade, não temos acesso aos conteúdos bibliográficos que, em situações normais, estão sempre ao nosso dispor, requerem, no entanto, vontade de ler, não temos acesso a um serviço de cantina da Ação Social onde a refeição completa é mais barata do que aquela que fazemos em casa. Porque é que temos de pagar a propina inteira?

Aulas e avaliações “às três pancadas”, pois por muita vontade e dinamismo dos professores há sempre falhas de rede e informáticas, já que naquela hora perdemos mais tempo a descortinar o porquê do nosso microfone não funcionar, ou o porquê de o professor não conseguir falar quer por não conseguir ligar o micro, quer pela confusão que se gera na sala. Não falando sequer nos infortunados que, infelizmente, nem meios informáticos possuem para poderem assistir às aulas ou até ser avaliados.

Este tipo de aulas não reflete em nada o ensino personalizado e dedicado que é na sala de aula, fazendo, deste modo, que a passagem de testemunho educacional se perca na rede. É esse testemunho que se perde que diferencia os de agora com os que vieram antes.

É bastante intuitivo que não me tenha referido em aulas práticas ou laboratoriais, pois são práticas na medida de ter de ser prático em sala de aula e, laboratoriais porque nem todos, em casa, possuímos reagentes químicos, nos armários de cozinha, nem uma máquina industrial na garagem.

São tempos difíceis todos o sabemos e sentimos. Difíceis para nós, para os nossos e difíceis para as Universidades. Onde algumas conduzem ações de solidariedade e bem, pois toda a ajuda é necessária. Não acho, no entanto, moral obrigar um aluno a subsidiar uma instituição que nos está a hipotecar o futuro.

Subscrevo a Netflix e pago inteiramente por um serviço que me é garantido assim que ligo o computador, e por muito “first world problems” que seja fico muito aborrecido com a Netflix pára a meio de um episódio ou até bloqueia. Eu estou imensamente aborrecido agora, pois continuo a pagar mas o ensino bloqueou, está ainda a fazer “buffering”, não sei se vou conseguir ver este episódio até ao fim, nem sei como será o resto da temporada. Só que não quero continuar a pagar, pois invisto, não dou subsídios.