Shinzo Abe — o mais jovem primeiro-ministro japonês do pós-guerra e também aquele que mais tempo esteve em funções como líder do governo (entre 2012 a 2020) — foi assassinado pelas costas em Nara enquanto fazia um comício de rua.

Membro do Partido Liberal Democrático (LDP), Shinzo Abe era um nome incontornável da política japonesa e internacional da última década.

A ele se ficaram a dever um conjunto de políticas económicas e sociais, destinadas a tirar o Japão do período de recessão e estagnação que vinha atravessando desde o início do sec. XXI, políticas, essas, que os economistas viriam a apelidar de “abenomics”.

O principal objectivo dessas políticas era aumentar a competitividade da economia japonesa, expandir o comércio e aumentar a taxa de empregabilidade.

Tais políticas assentavam em três pilares: estímulo fiscal, flexibilização monetária e reformas estruturais.

Apesar de apenas terem sido alcançados resultados parciais, essas políticas marcaram a economia e a sociedade japonesa na última década.

Shinzo Abe foi também um político activo a nível internacional.

Se por um lado ele aprofundou as relações entre o Japão e os Estados Unidos no plano económico e de segurança, por outro lado ele incentivou e promoveu o estabelecimento do novo acordo comercial entre o Japão e a União Europeia que entrou em vigor em Fevereiro de 2019 e que visava liberalizar e facilitar o comércio e o investimento, bem como promover uma relação económica mais próxima entre o Japão e a Europa.

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Mas o seu maior papel a nível de política externa terá sido o de promover a região do Indo-Pacífico como a nova zona geoestratégica, a nível político, económico e de segurança, procurando criar alianças que contrabalançassem o poder crescente que a China veio a assumir na região.

A nível interno, Shinzo Abe vinha sendo também uma voz activa na defesa de uma revisão constitucional que permitisse ao seu país ter um exército não apenas defensivo – algo que lhe está vedado constitucionalmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Ultimamente, o ex-primeiro ministro vinha defendendo também que o Japão deveria discutir a possibilidade de ter armamento nuclear no seu território – algo extremamente controverso na sociedade japonesa, que tem ainda vivo na memória os pesadelos de Hiroshima e Nagasaki.

Não são ainda conhecidas as razões que levaram o assassino Yamagama Tetsuya – um ex-membro das forças armadas japonesas – a atentar contra a vida do ex-primeiro ministro.

Será importante perceber se o assassinato de Shinzo Abe foi um acto individual de alguém psicologicamente desequilibrado ou se, pelo contrário, foi um acto planeado e concertado e que deve ser lido politicamente.

Seja como for, o Japão e o Mundo perderam um grande político.