A doença cardiovascular, um termo genérico que designa todas as doenças que podem afetar o coração e os vasos sanguíneos, é a principal causa de morte de mulheres na Europa e em todo o mundo, representando um terço de todas as mortes. Ao contrário dos homens, em que as doenças oncológicas são já a principal causa de morte.

A doença cardiovascular nas mulheres permanece menos estudada, menos reconhecida, menos diagnosticada e menos tratada. Isto deve-se a vários fatores, como seja o facto de os sintomas da doença serem mais atípicos e, por isso, as pessoas estão menos alerta, mas também uma menor representação nos estudos clínicos e um maior atraso no diagnóstico e reconhecimento da doença cardiovascular. Um estudo recentemente publicado mostra que mais de um terço das mulheres com dor no peito esperam mais de 12 horas antes da procura de cuidados médicos.

Mas quais são as mulheres com maior risco de doença cardíaca? A mulher pode desenvolver doença cardíaca em qualquer idade, mas o risco aumenta substancialmente nos períodos antes e depois da menopausa. Isto devido à redução da produção de estrogénios, uma hormona com papel protetor na doença cardíaca, o que justifica a ocorrência de doença coronária 10 anos mais tarde do que os homens. Mulheres com história familiar de doença cardíaca antes dos 50 anos, endometriose, diabetes, fumadoras, com história de ansiedade e depressão, ou um baixo nível de atividade física, entre outras razões, apresentam igualmente maior risco.

Todos os momentos de contacto da mulher com as várias especialidades médicas, devem ser oportunidades para o seu rastreio cardiovascular, por exemplo com a medição da tensão arterial e análises com avaliação da glicémia em jejum, colesterol e triglicéridos, incentivando-se a cessação tabágica, dieta e exercício físico.

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A associação entre a doença cardíaca e a gravidez é cada vez mais frequente. De acordo com os dados mais recentes, cerca de 1 a 4% de todas as gravidezes nos países ocidentais complicam-se pela existência de doença cardiovascular. A incidência tem aumentado devido à ocorrência da gravidez em idade mais tardia, a uma maior prevalência de fatores de risco cardiovascular em mulheres na idade fértil, como sejam hábitos tabágicos, diabetes mellitus, obesidade, ou hipertensão arterial, mas também ao número crescente de mulheres com doenças cardíacas congénitas corrigidas que atingem a idade adulta.

A avaliação e o seguimento de mulheres com doença cardiovascular conhecida ou suspeita que pretendem engravidar, deve começar antes da gravidez, de forma que se possa avaliar o risco individual e programar de forma antecipada os cuidados a ter: é por exemplo de extrema importância o ajuste da medicação anti-hipertensora antes da gravidez, já que muitos dos medicamentos frequentemente utilizados estão contra-indicados durante a gravidez. O follow up deve ser mantido depois do parto e estendido de acordo com a avaliação individual.

É assim uma prática cada vez mais comum e recomendada, existirem equipas dedicadas a este tipo de patologias, traduzindo-se em melhores resultados clínicos. É, por isso, fundamental que a mulher seja avaliada numa consulta diferenciada dedicada a esta patologia, que tem como objetivo a avaliação da mulher nas mais diversas etapas da vida, desde a avaliação pré-gravidez e gravidez até à menopausa e pós-menopausa, com o objetivo de prevenir a doença e tratá-la se já existir.