Portugal atingiu uma elevada taxa de vacinação contra o vírus SARS-CoV-2, o que contribui para a diminuição do número de pessoas com doença grave a necessitarem de cuidados de hospitalares. Temos razão para estarmos entusiasmados com o sucesso da nossa campanha de vacinação.

Perguntar-se-ão, então, qual a razão de mantermos tanta precaução quando mais de 8,2 milhões de pessoas já concluíram o processo de vacinação. A resposta é simples: o vírus não desapareceu nem a pandemia chegou ao fim. Apesar de vacinados, o vírus permanece em circulação e podemos ser infetados e transmiti-lo. A vacinação é uma excelente medida de controlo da doença, mas não da infeção.

Existem apenas duas maneiras de evitar a transmissão da Covid-19: através do uso de máscara e do distanciamento social associados a medidas que diminuem a propagação do vírus no ar. Quando um destes fatores está assegurado pelo distanciamento e por estarmos ao ar livre, a transmissão está diminuída. Faz todo o sentido o levantamento do uso da máscara nos espaços públicos. Não é um erro. É um passo em frente.

Nos espaços fechados em que não estão assegurados a ventilação e arejamento dos locais, a possibilidade de transmissão do vírus é maior pelo que se deve continuar a usar a máscara.

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É verdade que o fim do uso obrigatório de máscara na via pública pode, admitamos, vir a ter influência sobre a taxa de incidência de infeções por SARS-CoV-2 e originar mais casos. Mas isso terá muito que ver com o comportamento coletivo e individual. Idas frequentes a eventos, ainda que realizados ao ar livre, nos quais se juntem muitas pessoas que não usem máscara traduzir-se-á, é lógico, num aumento de transmissão. Cada um deve continuar a ter o cuidado de não se reunir em grandes grupos. Tomar um café numa esplanada não acarreta perigo desde que se mantenha o afastamento. Quando não se usa máscara é ainda mais importante manter o distanciamento, e esse – não nos esqueçamos, tão cedo – é o grande fator de proteção individual. Devemos manter-nos atentos ao número de pessoas com quem contactamos, mesmo ao ar livre. Há sempre que ter em atenção a proximidade entre pessoas e, se assim o quisermos, manter a máscara. O aconselhado, agora, é o uso de máscara cirúrgica, ou de uso social – as máscaras FFP2 estão reservadas a uso clínico ou para contacto com pessoas infetadas.

Por outro lado, as novas medidas de prevenção da transmissão do coronavírus SARS-CoV-2 introduzidas nas escolas fazem sentido, pois são locais onde circulam dezenas de crianças de vários núcleos familiares. São pontos de cruzamento de pessoas e, como tal, de propagação do vírus.

E não nos devemos esquecer de que estamos ainda no cenário de pandemia e que, como o nome indica, nos afeta à escala global. Existe uma grande assimetria na vacinação a nível mundial, com muitos países a ter taxas de vacinação baixas. Neste nosso mundo global, no qual é fácil saltar geografias, basta surgir uma nova variante do SARS-CoV-2 num país, à qual a vacina não dê uma resposta tão eficaz, para que, de um momento para o outro, se dê um agravamento da situação epidemiológica na Europa ou noutro local do mundo. A estirpe delta foi um exemplo de como, em poucas semanas, um país fica completamente dominado por uma estirpe de alta transmissibilidade. Enquanto globalmente a pandemia não for controlada, não podemos estar descansados em nenhum país! Neste momento recebemos muitas mensagens de Inglaterra, EUA, Alemanha com indicação de se manter grande precaução e vigilância relativamente ao inverno que se aproxima – o que contrasta com o clima de euforia nacional. Sim, temos razão para estar satisfeitos, mas devemos manter a precaução.

Como nota final, recomendo deixarmos de encarar a máscara como um peso. Devemos aceitá-la e identificá-la como um objeto de uso diário, como tantos outros que fazem parte da nossa vida. A máscara é uma excelente medida para evitar transmissão de doenças respiratórias seja a gripe ou constipação. Repito: vem aí o inverno e, portanto, não vamos pô-la de lado. Não devemos considerá-la uma questão de defesa exclusiva da Covid-19.

E não nos iludamos: este vai ser um inverno que nos exigirá, a todos, ainda muita prudência.