Vivemos tempos inéditos no nosso país. Inflação desmesurada que afecta os preços da comida e das casas, salários estagnados sem perspectivas de subida, uma cada vez maior quantidade de pessoas com antidepressivos, número esse que aumenta a cada dia, e zero perspectivas de criação de família para a maioria dos jovens em idade adulta, sendo que cada vez menos pretendem ter filhos. Como se avizinha o futuro para os jovens portugueses? A resposta é simples e perturbadora, como o leitor já se terá apercebido.

Estamos num país envelhecido, com uma taxa de fertilidade à volta de 1,3 filhos por mulher, número consideravelmente abaixo da taxa de renovação de 2,1 filhos necessária para a manutenção da população. Um país onde o salário médio se encontra na ordem dos 1200 euros brutos mensais, com preços de rendas incomportáveis, e em que os preços das casas chegam a níveis absurdos, principalmente em Lisboa e Porto, onde mora mais de 50% da população e a maioria da população jovem. Um país também onde grande parte dos jovens licenciados, com boa educação e quiçá com capacidades para ajudar a dar a volta à situação nacional, se vêem forçados a emigrar de uma nação que é cada vez menos deles.

Há quem diga, e se calhar com razão, que esses mesmos jovens deviam ficar e ajudar a melhorar Portugal. Que deviam contribuir e ter o seu papel na restruturação da sociedade. Mas como conseguimos culpá-los quando cada vez têm menos razão para ficar? Como podemos esperar que os jovens portugueses se sacrifiquem para ajudar o país quando nem o próprio governo tenta criar medidas para os manter e preservar?

Peço ao leitor que faça umas contas de cabeça comigo. Assumindo uma situação estatisticamente média de estilo de vida, um casal de jovens na casa dos 25 anos, que viva em Lisboa, ganhe dois salários médios, que pague uma renda média, que tenha um carro e que pague os impostos gritantes associados ao mesmo: quanto dinheiro poupa por mês? E isto sem filhos? Quando dinheiro consegue juntar para comprar uma casa, algo que facilitaria, e muito, a possibilidade de ter filhos num futuro próximo? Praticamente nada, quando comparado com o que conseguia há 20 anos atrás.

Sendo eu também um jovem adulto, e tendo falado com muitas pessoas da minha idade sobre as suas perspectivas de futuro, e tendo eu próprio considerado todas as hipóteses, sei que as possíveis soluções são limitadas. É necessário, tanto da parte dos jovens como das gerações mais velhas, uma reflexão profunda sobre o estado do nosso país. É necessária uma introspeção e ponderação sobre o que será e o que não será Portugal. Pergunto às gerações mais velhas o seguinte: será Portugal um país que se orgulham de deixar aos vossos filhos e netos? Pergunto às gerações mais novas: será Portugal um país pelo qual estão dispostos a lutar de forma a transformá-lo num país melhor para os vossos descendentes? Não sou uma pessoa negativa, mas sei que se nada for feito, e o status-quo se mantiver, Portugal se transformará em algo que seria irreconhecível para os nossos avós e bisavós. Será essa transformação boa ou má? Deixo ao critério dos leitores essa análise.

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