O pacote que o governo anuncia tem no seu total um valor de 4 mil milhões de euros, uma migalha, a capacidade de ajuda do governo era muito superior à que nos é apresentada. A desvalorização constante da inflação e as suas consequências pelo ministro das Finanças colocam-nos hoje nesta situação.

Depois de ouvirmos Pedro Sánchez anunciar a descida do IVA do gás de 21% para 5%, as expectativas para Portugal eram altas. Pensávamos que finalmente iríamos ser presenteados com um apoio governamental e não nos iria ser mandada mais areia para os olhos. Espanha, que em Junho já tinha descido o IVA da luz de 10% para 5% devido à guerra no leste da Europa, e relembrando que o IVA da electricidade já esteve nos 21% no ano passado, dava uma certa segurança à perspectiva de que o governo português tivesse atitudes semelhantes.

As medidas anunciadas para o suposto combate à inflação em Portugal são um verdadeiro populismo. São confusas e não deixam claro como a longo prazo irão ajudar os portugueses. Promessas a curto prazo podem vir a ser benéficas, porém a única mensagem presente na cabeça dos portugueses é a sua recompensa de 125,00 euros, paga exclusivamente no mês de Outubro. Esquecendo que o Estado vive dos nossos impostos, este dinheiro devolvido ao bolso do contribuinte é apenas o dinheiro dos nossos impostos, um valor miserável que em nada é justo para quem tem pago extras por 10 meses de guerra.

A inflação está quase nos 10%, segundo o INE. O poder de compra dos portugueses tem sido fortemente afetado e as presentes medidas são claras: não são um incentivo ou um alívio fiscal, mas areia atirada aos olhos dos portugueses. Relembro que em Janeiro deste ano Portugal figurava em último lugar no ranking de literacia financeira da zona Euro, segundo o Banco Central Europeu.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sobre energia, temos outra ilusão. O IVA da electricidade passa de 13% para 6%, porém é apenas para os consumos mais baixos (aplicada aos primeiros 100kWh consumidos por mês), não para todos. Nos restantes o IVA mantém-se nos 23%, afectando negativamente, mais uma vez, a classe média e as maiores famílias.

As medidas que afectam os pensionistas podem ser benéficas a curto prazo aos olhos dos mesmos, contudo a longo prazo irão acabar em prejuízo. Estas medidas poderão ser populares actualmente, mas acabarão apenas por ser um golpe para prejudicar os pensionistas a longo prazo.

O governo cada vez torna os portugueses mais dependentes dele em vez de os libertar. Nesta ocasião poderia ter feito um ‘brilharete’ e saído bem na fotografia, mas consegue dar um tiro no pé. A curto prazo poderá ficar bem visto, porém a longo prazo as consequências destas medidas inúteis irão ter consequências e a culpa recairá sobre os governantes.

Por fim, não se combate a inflação criando mais inflação, as decisões de hoje decidem o amanhã, pois em economia o que não se vê é tão ou mais importante do que aquilo que se vê. Devemos por isso pensar sempre nas consequências futuras de medidas de curto prazo.