O ano lectivo começa estupidamente em Setembro; o dia lectivo começa estupidamente às oito da manhã; a semana lectiva acaba estupidamente à sexta. Pergunte-se a um professor o que devia ser uma semana lectiva, e devia durar quatro anos; pergunte-se-lhe o que devia ser um dia de escola, e devia ter vinte e oito horas; pergunte-se-lhe quanto devia demorar uma aula, e devia durar três semanas. Caso contrário, perguntam eles, como é que chegaremos ao fim do programa?

Não há mistério: a razão por que os programas são longos é o muito que os professores têm dentro de si para ensinar, o tanto que há para aprender, e o tempo que demora a verificar se tudo foi ensinado e aprendido em termos. Fará todavia esta meticulosidade parte da natureza humana? A Alemanha de Leste foi historicamente um pouco ríspida, mas em matérias ginasiais era incomparável. Os atletas ao sair da escola chegavam ao pleno emprego preparados para corresponder aos imperativos da cidadania. Mesmo porém nesses casos que tinham tudo para correr bem ficavam algumas coisas por fazer.

Como explicar que apesar do afã indisputado não haja quase professores que consigam chegar ao fim dos seus programas? É provável que quando no ano as borboletas já borboleteiam e as abelhas já abelham possa não ser prático resolver problemas envolvendo “a aplicação da Lei do Decaimento Radioactivo”; ou explicar “a revivescência do fervor religioso e a rarefacção da classe operária”; ou “reconhecer a forma como se constrói a textualidade.” Estes três tópicos tão diferentes entre si têm não obstante em comum o situar-se no fim dos respectivos programas; e mete-se o Pentecostes e as ceifas.

A noção de fim do programa não é simples. É só explicada pela primeira vez aos alunos de matemática do décimo-primeiro ano. Aos dezasseis anos, quando já conhecem bem as noções análogas de fim de namoro e fim da História, são ensinados a representar graficamente coisas que parecem chegar a um ponto a que na prática nunca chegam. O que define a noção de programa é com efeito esse nunca se chegar onde parece que se está quase a chegar. Eis a particularidade que encoraja os professores a, porque não têm tempo para fazer o que podem, desejar tempo para fazer o que devem.

Desejar mais tempo de escola sugere ambição. Transmite a ideia de que a vida não merece ser vivida se não tivermos sido antes convenientemente cativados pela escola: vinte e oito horas por dia, quatro anos por semana; e indo a casa em intervalos da instrução abundante. É verdade que nas aulas de apresentação ou de ginástica tudo parece à primeira vista despretensioso. Mas, esgotadas as amenidades do reconhecimento, fecha-se a porta e perpassa um lampejo selvagem pelos olhos do professor: ao trabalho, juventude, que se faz tarde; este ano não vamos conseguir chegar ao fim do programa.

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