Esta semana foi lançado o Portugal Fintech Report 2019, o maior estudo sobre o sector em Portugal. As conclusões são evidentes: o Fintech está a crescer aceleradamente, existem mais condições em Portugal para o fazer e há cada vez mais cooperação com bancos e seguradoras.

Este movimento era evidente e inevitável. A maioria dos bancos e seguradoras incumbentes resistiram ou ignoraram-no inicialmente, mas hoje a cooperação com Fintechs é já uma prática massificada na indústria. As vantagens são inúmeras: se por um lado as Fintechs têm uma cultura ágil, tecnologia inovadora e estão continuamente a melhorar os seus produtos em ciclos rápidos de desenvolvimento focados no cliente, os incumbentes têm os clientes, a confiança dos portugueses e as licenças necessárias.

Que dados espelham estas tendências no nosso país?

  • 80% das Fintechs portuguesas são empresas B2B (Business-to-Business). 46% dos fundadores realça que é cada vez mais fácil trabalhar com bancos e seguradoras. Este tipo de cooperação pode ser tangibilizado em exemplos com resultados reais, tais como a Habit Analytics servir de base para a oferta digital do seguro de casa da Allianz em França, a Loqr ter transformado a abertura de conta do Montepio numa jornada completamente digital ou ainda a hAPI ter permitido ao BiG ser pioneiro na visão agregada de contas de diferentes bancos – com mais dados bancários e de investimentos, muito para além dos saldos e transferências do PSD2.
  • 210 milhões de euros em levantamentos de capital e mais de 1.100 empregos criados são alguns dos números que as 30 empresas mais promissoras oferecem à economia portuguesa. Dados que não deixam de ser impressionantes pelo facto de mais de 50% destas empresas terem sido criadas nos últimos três anos. Alguns exemplos destas novas empresas são a Coverflex (seguros flexíveis e otimizados para PME’s), a Student Finance (financiamento a estudantes não através de crédito, mas com uma participação no futuro salário) e a Go Parity (crowdfunding para projetos alinhados com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU).
  • Até a relação com os reguladores, que durante muito tempo foi apontada como um dos principais obstáculos à inovação, mereceu indicação de melhorias de acessibilidade e diálogo por parte de mais de 50% dos fundadores de Fintechs. Grande parte desta nota positiva poderá ser explicada pelo Portugal Finlab – o innovation hub coordenado entre o Banco de Portugal, CMVM, ASF e Portugal Fintech – criado para esclarecer, em termos regulatórios, os inovadores no sector financeiro. A nota negativa mais acentuada foi para o Governo, com apenas 14% dos fundadores a considerar que o executivo está no caminho certo. Este número não surpreende se considerarmos a exagerada carga fiscal que se continua a fazer recair na economia portuguesa e um apoio ao empreendedorismo assente no “fogo de artifício” do Web Summit mas pouco focado, integrado e consequente para diferenciar Portugal nas temáticas de Fintech.

Felizmente Portugal continua a ter o mais importante: a iniciativa privada dos fundadores, empresários portugueses com a coragem de desafiar as fronteiras da actual oferta do sector financeiro. Basta olhar para empresas como a Feedzai (detecção de fraude transacional) ou a Switch Payments (plataforma especializada em pagamentos que agrega os principais meios de pagamentos) que têm mostrado um desempenho invejável para qualquer país. Prova desta dinâmica e melhoria das condições para o Fintech é o nascimento da Fintech House, o primeiro co-work nacional dedicado a um único vertical tecnológico. Vai abrir portas em Dezembro no Palácio das Varandas, na Praça da Alegria, em Lisboa.

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Numa semana  em que o país será invadido por amantes da tecnologia, se lhe perguntarem como está o Fintech em Portugal já tem dados para responder: melhor que nunca e a cooperar.

João Freire de Andrade é ‘Head of Venture Capital’ na BiG Start Ventures. Fundador e Presidente da Portugal Fintech, completou o curso de Fintech do MIT. Licenciou-se em Economia pela Nova SBE e tem um mestrado em Management and Finance da Católica Lisbon SBE, onde criou e leciona a primeira cadeira de Fintech num mestrado de Finanças em Portugal.

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, irão partilhar com os leitores a visão para o futuro nacional e global, com base na sua experiência pessoal e profissional. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.