Quando uma droga é viciante como o tabaco, acessível como o café e destruidora como o álcool, damos-lhe o inofensivo nome de “entretenimento.”

Seja aquela série da plataforma de streaming online, seja a rede social ou video jogos, as formas de entretenimento rápido e digerido infiltraram-se profundamente em todos os aspetos da vida humana. Desde conteúdo informativo a banalidades, a informação tem de estar o mais processada e atrativa possível para ativar os nossos sistemas primais que nos recompensam com dopamina.

A última grande geração, antes da esperada quebra dos números da geração alfa, a Z, sofre cronicamente com o vício do entretenimento rápido. Verdade seja dita, está longe de ser a única afetada, mas é a mais proeminentemente marcada por tal.

As consequência são claras: falta de motivação, disciplina, sociabilidade, relações interpessoais, de objetivo e propósito. Os jovens acabam por não encontrar tempo, energia ou espaço mental para considerar todas estas opções, todas igualmente importantes para o desenvolvimento do ser-humano pleno. Estes acabam por somente serem capazes de desenvolver algumas destas facetas enquanto que as restantes são substituídas pelos ecrãs.

O mais preocupante é que, dentro do respetivo grupo etário, este desperdício de tempo tende a ser perfeitamente aceitável. Poucos e raros são os jovens que acreditam que jogar video jogos o dia inteiro após a aula é algo de mal. A tendência é este problema ser frequente em rapazes, mas as raparigas rapidamente substituirão a consola por um telemóvel, os jogos por likes na foto.

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Há, entre nós, uma breve consciência sobre os desafios à saúde mental que as redes sociais podem causar, principalmente em raparigas, quando o tema é aparência física ou vida idealizada.

Quando os deveres que requerem alguma autonomia começam a amontoar-se na vida dos jovens, sendo exemplo disso a entrada na faculdade, é que o vício começa a ter consequências palpáveis. O estudo é facilmente esquecido quando uma série de tv é lançada por inteiro, 10 episódios, 50 minutos cada.

Soluções? Não há fáceis. Se o problema fosse exclusivo das crianças, a resposta seria pais mais atentos, presentes e estritos. Porém esta doença prolifera danosamente pelos jovens adultos. Neste plano, a solução passa pela responsabilização e disciplina pessoal, algo que parece, progressivamente, perder a importâncias nas nossas sociedades ocidentais. Isto só será possível, tal como qualquer vício, após um reconhecimento do problema, que, necessariamente, requer mais altruísmo e genuína preocupação para com o outro, em especial por parte daqueles que escaparam do problema.

Será preciso uma real mudança na mentalidade coletiva relativamente ao entretenimento. Trocar a vida no mundo físico e real pelos ecrãs deve deixar de ser socialmente aceitável. Não digo que o entretenimento deva ser completamente rejeitado, só defendo que deva ser como o copo de vinho ao jantar, moderado e controlado.