Pelo título pode parecer que estou a ser irónico, mas estou a ser muito sincero. Francisco Rodrigues dos Santos, surpreendentemente eleito pelas bases do CDS contra um vencedor pré-anunciado, pegou corajosamente num partido perdido com a ausência de Paulo Portas e depois de ter falhado com estrondo a tentativa de ser uma espécie de PSD 2. Aguentou estoicamente uma agressiva oposição interna, que faz parte da vida democrática, mas que neste caso tinha a notoriedade e a entrada na comunicação social capaz de fazer grandes estragos. Passou pelo tempo do covid que dificultou a sua afirmação, agravada pela ausência do líder no Parlamento (apesar de admirar Cecilia Meireles acredito que lhe deveria ter cedido o seu lugar e isso teria ajudado muito a nova liderança). Enfrentou o problema das dívidas que herdou e procurou juntar os cacos dum partido desmoralizado e desunido e aguentar o crescimento duma oposição à direita a disputar um eleitorado semelhante, como nunca tinha havido no passado. A esta “tempestade perfeita“ juntou-se ainda o caso do adiamento/não antecipação do Congresso que, por mais razões que pudesse ter, caiu muito mal ao eleitorado e deu até a desculpa final a um PSD para não ir coligado com o CDS, numa opção arrogante e tardia que se revelou errada para os dois partidos, mas especialmente devastadora para o CDS. Avançou assim para a campanha eleitoral como um completo “underdog”, com o peso de ter que salvar o partido a quem já poucas pessoas sequer ligavam.

Deu tudo neste período, especialmente nos debates onde brilhou (mesmo naquele com Ventura onde se terá excedido, deu prazer ver o seu rival completamente desorientado e foi o único que por exemplo denunciou o PAN como partido animalista radical que é.) Recuperou históricos do partido como Manuel Monteiro e Ribeiro e Castro, juntou um conjunto de candidatos de grande valor e até António Lobo Xavier e Luis Nobre Guedes que têm estado mais afastados das lides partidárias fizeram questão de se juntar à campanha. Foi pena não ter conseguido a participação dos principais rostos da oposição interna e dos últimos Presidentes, mas aqui esta escolha fica com a consciência de quem a tomou. Em contrapartida, foi publicamente elogiado por pessoas insuspeitas e não ligadas ao CDS como o Prof. Mário Pinto, Rui Ramos e Maria João Avillez, entre outros que apelaram publicamente ao voto no CDS. Inovou com filmes e cartazes polémicos e originais que tiveram o mérito de pôr as pessoas a falar do CDS.

Acima de tudo recentrou o discurso e o CDS que voltou a ser um partido democrata cristão, conservador nos valores a alertar para o perigo das “modas” que vêm de fora que podem descaracterizar o nosso país e liberal na economia (aqui tudo o que o IL defende já o CDS defende há algum tempo) , preocupado com as empresas e com o crescimento económico, sem deixar de mostrar preocupações sociais com medidas concretas para os mais desfavorecidos na linha do humanismo personalista que caracterizou o CDS durante largos períodos da sua história. Isto só trouxe uns 85 mil votos mas não é por não se ser popular que não se deixa de ter razão. Finalmente, teve ainda muita dignidade na noite das eleições (que difícil terá sido fazer aquele discurso) e saiu pela porta pequena acusado injustamente de ser o “coveiro do CDS” quando a cova já estava bem funda quando ele pegou no partido.

E agora? O que não falta é gente capaz no CDS, mas não vai ser nada fácil este processo de reerguer o partido. Os próximos tempos serão muito duros ao nível da relevância, militância e até financeiramente. O desafio é tremendo mas é nestas alturas que o partido tem que mostrar o que vale. Pessoalmente não acredito que o futuro deva passar por quem não deu a mão ao CDS nestas eleições que todos sabíamos ser fundamentais para o partido, mas acredito que os militantes saberão escolher bem.

Citando São João Paulo II devemos hoje olhar o passado com gratidão (dum partido fundador da democracia que por exemplo foi o único que recusou o caminho para o socialismo da Constituição de 1976); viver o presente com paixão (esperando que no próximo Congresso se discuta aguerridamente, mas com serenidade e elevação) e abraçar o futuro com esperança (Portugal precisa do CDS!)

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