Orgulho-me de pertencer a uma geração que tem como bandeira a defesa do ambiente. Gerações anteriores lutaram pela liberdade e pelo desenvolvimento, agora chegou o tempo de defendermos um futuro razoável, com mais qualidade de vida, em respeito pelos outros e pelo Planeta que nos une.

Após terminar a minha Pós-Graduação no ISCTE, decidi, em 2011, voltar a Beja para dar continuidade ao trabalho que o meu pai desenvolve há mais de 20 anos no olival e na vinha, e iniciar a minha atividade na agricultura.

O nosso futuro coletivo passa por uma agricultura que corresponda às necessidades das pessoas, que gere riqueza sem destruir a terra, que garanta um Planeta aos nossos filhos.

Tenho a sorte de presenciar e participar na transformação que se vive no Alentejo. Há muitos anos que não se via um momento tão dinâmico como o de hoje, designadamente graças ao Alqueva. Hoje contrariamos os “Velhos do Restelo” que condenavam o Alentejo a uma pobreza endémica porque, justamente, produzimos mais e melhor e, com isto, fixamos as pessoas, damos nova vidas às vilas e cidades envelhecidas.

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Contudo, em certos meios urbanos, têm surgido críticas, em particular de ordem ambiental, visando precisamente o olival enquanto “monocultura” – expressão que deixo entre aspas por nela não me rever.

Ter-se-ão, as pessoas que falam em “monocultura”, esquecido do Alentejo sem regadio? Um Alentejo pobre e desertificado, onde a diversidade cultural estava limitada aos cereais e onde não havia oportunidades para os jovens.

Poderemos falar em “monocultura” de olival, se, no Alentejo, se faz amendoal, nogueiral, pomares de romã, melão, beterraba, vinha, papoila e canábis medicinal, milho, trigo, cevada, girassol…? Usará o olival mais recursos hídricos do que as outras culturas? Quase todo o olival produzido no Alentejo está certificado em Produção Integrada, baseado em boas práticas agrícolas, há uma gestão racional dos recursos naturais e são utilizados mecanismos de regulação natural, contribuindo para uma agricultura sustentável.

Convido-vos a refletir: Podemos falar em “monocultura” no Alentejo? Será o olival, cultura autóctone, e, por isso, originária e adaptada ao meio ambiente, prejudicial para o mesmo?

Em que estudos científicos nos baseamos? Temos alternativas viáveis? Será razoável exigir ao agricultor que diversifique a sua atividade sem que tenha infraestruturas, e, mais importante, procura por parte do mercado?
O olival tem permitido oferecer emprego a quem por cá quer ficar, e a pessoas de fora, promovendo o retorno ao interior. Proporciona, ainda, a captação de investimento interno e externo, essencial ao desenvolvimento das regiões.

Existe a ideia de que o olivicultor procura o lucro fácil a qualquer custo. Não é verdade. Como qualquer agricultor, o olivicultor pretende o sucesso do seu negócio, e sabe que o seu principal investimento não é a cultura, o trator ou a alfaia, é a terra. E a terra e a sua generosidade são limitadas, sem elas não há agricultura.
Enquanto agricultor, sou o primeiro a preocupar-me com a sustentabilidade e com o ambiente. O meu modo de vida e o futuro depende dele – mas não nos podemos dar ao luxo de travar as batalhas erradas.

Filipe Castelo Branco é agricultor, associado da Olivum – Associação de Olivicultores do Sul