Recentemente, a União Europeia anunciou a implementação de um novo imposto sobre veículos elétricos fabricados na China. Esta medida, que tem como objetivo proteger a indústria automóvel europeia da concorrência feroz e dos subsídios estatais chineses, levanta uma série de questões sobre as suas consequências, desafios e o impacto específico em Portugal.

A introdução deste imposto representa uma mudança importante na política comercial da União Europeia. A medida pretende que o comércio automóvel seja mais justo para os fabricantes europeus, que têm enfrentado dificuldades para competir com os preços mais baixos dos veículos elétricos chineses. Nesse sentido, espera-se que esta política aumente os preços dos veículos elétricos, na medida em que com a aplicação deste imposto, é presumível que os valores dos veículos elétricos chineses subam, tornando-os menos atrativos para os consumidores europeus. Segundo as declarações públicas dos principais fabricantes europeus, e ao contrário do que seria expectável, os próprios encontram-se em oposição ao formato de tributação encontrado.

Além disso, espera-se que esta medida promova a produção local ao incentivar os fabricantes europeus e asiáticos a investirem mais na produção e no desenvolvimento de novas tecnologias sustentáveis dentro da União Europeia. De referir, também, que ao diversificar as importações e ao fomentar o crescimento de indústrias domésticas, tornando-as mais robustas e independentes, espera-se que haja uma redução da dependência dos produtos chineses. Os recentes anúncios da Volvo e da BYD de localizar a produção na Europa são uma medida que irá, possivelmente, evitar esta tributação adicional.

Apesar dos propósitos positivos, esta medida não está isenta de desafios. Por um lado, poderemos deparar-nos com uma retaliação por parte da China, através de medidas idênticas sobre os produtos europeus, desencadeando uma guerra comercial que poderá afetar vários setores económicos europeus. Por outro lado, com o aumento dos preços dos veículos elétricos os consumidores poderão ter mais dificuldades em adquirir este tipo de automóveis, atrasando, inevitavelmente, a transição para uma mobilidade mais verde, com consequências negativas para o cumprimento dos objetivos climáticos da União Europeia. Não esquecer ainda que a indústria automóvel europeia terá de adaptar de forma muito significativa a sua capacidade de produção, acelerando-a para colmatar a procura por veículos chineses, um desafio estimável a curto prazo.

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Podemos recordar as medidas protecionistas de 2013, com uma investigação comparável começada em setembro de 2012 e cujos resultados, volvida uma década, é que a grande maioria da produção de módulos fotovoltaicos tem origem na China.

É inevitável que o nosso país seja afetado com esta nova política. Logo à partida, os consumidores portugueses podem encontrar preços mais altos para veículos elétricos, o que pode reduzir a taxa de procura deste género de automóvel a curto e médio prazo. A longo prazo, espera-se que a oferta local e europeia se torne mais competitiva, diversificada e atraente para incentivar os cidadãos a optarem por este tipo de carros.

Contudo, Portugal, tem uma indústria automóvel significativa, com várias fábricas e fornecedores de componentes. Este imposto pode levar ao aumento da produção local e de investimentos em tecnologias inovadoras e sustentáveis. Com este aumento, poderá haver a criação de mais emprego e um crescimento económico resultante de um impulso na produção local de veículos elétricos. No entanto, é determinante garantir que as infraestruturas e a mão-de-obra estejam prontas para acompanhar esta transformação.

Devemos, assim, estar conscientes de que o novo imposto sobre veículos elétricos fabricados na China é uma medida com implicações profundas e complexas para a União Europeia. Apesar de ter como objetivo proteger e robustecer a indústria automóvel europeia, também expõe dificuldades que devem ser geridas com muito cuidado e diplomacia. Para Portugal, a solução passará pelo equilíbrio entre a proteção do consumidor, o incentivo à produção local e a manutenção dos objetivos ambientais. A colaboração entre governos, indústrias e consumidores será essencial para transformar estes desafios em oportunidades de crescimento e inovação.