Quando se discute o fosso económico entre homens e mulheres, os argumentos focam-se, por norma, nas questões da desigualdade salarial e em todas as razões porque essa desigualdade salarial tarda a desaparecer.

Um outro motivo comummente discutido é a falta de mulheres nas áreas tecnológicas, área de forte crescimento e criação de riqueza e que, segundo o Gender Gap Report do World Economic Forum, contribui grandemente para a existência do fosso económico entre homens e mulheres.

Mas existe um outro motivo, muito menos debatido, mas não de menor importância, que importa tentar perceber.

Anualmente, as grandes corporações gastam biliões de euros na aquisição de produtos e serviços. Mas os negócios detidos por mulheres representam apenas 1% do valor global gasto. Ou seja, apesar de as mulheres deterem mais de um 1/3 de todas as empresas do mundo isto não se traduz numa geração de valor e riqueza proporcional.

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Assim, promover políticas de aquisição de produtos e serviços inclusivas é mais uma forma de diminuir o fosso económico entre homens e mulheres. E isto não é apenas bom para as mulheres e para os seus negócios. Um estudo, conduzido pela consultora McKinsey & Company para o National Women’s Business Council, descobriu que aproximadamente 34% das empresas que tinham diversificado a sua base de fornecedores, envolvendo ativamente empresas detidas por mulheres, relataram um impacto positivo no seu lucro. Um exemplo disso é a AT&T, que em 2014 atribuiu um crescimento de 4 mil milhões de dólares em receitas à sua estratégia de aquisição de produtos e serviços a negócios detidos por mulheres.

E mais. As mulheres que, segundo a consultora BCG, vão em 2028 controlar 75% dos gastos dos consumidores finais, são mais abertas a experimentar novos produtos e serviços, quando sabem que a empresa tem políticas de apoio a negócios começados por mulheres.

Uma pergunta que se coloca é: porque é que as mulheres têm dificuldade em fornecer bens e serviços para as grandes empresas? Um dos principais fatores é a dificuldade de acesso a capital, também já identificado pelo Gender Gap Report do World Economic Forum, como um fator que contribui para a existência do fosso económico entre homens e mulheres.

As empresas que começam com níveis mais altos de capital mostram melhor desempenho em termos de receitas, lucro e taxa de sobrevivência. As mulheres tendem a iniciar os seus negócios com menos capital e ter menos acesso a financiamento do que os homens, o que limita sua capacidade de iniciar e expandir os seus negócios.

Que podem as grandes empresas fazer para ativamente contribuírem para a redução do fosso económico entre homens e mulheres?

Desde logo, repensar as suas políticas e as suas cadeias de fornecimento de forma a conseguirem incluir empresas mais pequenas, detidas por mulheres. Não estamos a falar de baixar os padrões de qualidade e exigência, mas sim a enfatizar a importância de remover barreiras e apoiar o desenvolvimento dos negócios detidos por mulheres, de forma a que possam competir com outros negócios.

Também é importante tornar estes processos de aquisição de bens e serviços mais transparentes, publicando as suas políticas de aquisição de bens e serviços, partilhando conteúdo informativo e definindo claros caminhos de colaboração. A falta de informação sobre as grandes empresas, sobre o seu processo de aquisição de bens e serviços e sobre por onde começar ou com quem entrar em contacto, são alguns dos impedimentos mais referidos pelos pequenos negócios.

Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos em 2015 pelas Nações Unidas, encontramos o ODS 5 – Igualdade de Género. Através de um procurement diverso e inclusivo, grandes, médias e pequenas empresas e outras organizações podem contribuir diretamente para alcançarmos as metas definidas pelo ODS 5 e paralelamente melhorarem o seu negócio. É win-win.

Inês Santos Silva é fundadora da Portuguese Women in Tech e está ativamente a trabalhar em iniciativas que diminuam o fosso económico entre homens e mulheres.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.