Segundo os Censos de 2021, Portugal tem menos 200 mil habitantes do que em 2011. Se acham muito, esperem só até ao próximo recenseamento. A diminuição vai ser ainda maior. É óbvio que os Portugueses se recusam a ter filhos. Que casal, no seu perfeito juízo, se atreve a trazer uma criança a este mundo? Mesmo quem já os tem está quase a desembaraçar-se deles – para protecção dos petizes, não é só por estarem de férias há mais de dois meses e já ninguém os poder ver. É porque Portugal se tornou num país que não cuida das suas crianças.

Querem um exemplo? A minha filha vai agora para o 5º ano. No momento em que só temos 80% da população vacinada – e apenas uns míseros 98% dos escalões etários mais velhos, em que morrem mais pessoas – a DGS está à espera que mande a minha filha para a escola apenas protegida por uma máscara? Em Portugal, dos cerca de 17800 mortos por Covid, cinco eram crianças. Cinco! Não uma, nem duas, nem três, nem quatro. Cinco. Se eu tivesse perdido um dedo num acidente com uma guilhotina de papel, precisava de duas mãos para contar. (Sim, eu sei que posso contar com a mão intacta. Não aborreçam com preciosismos. Imaginem que perdi um dedo em cada mão).

Com números destes é irresponsável mandar os nossos filhos para a escola. Todos os dias, ao despedir-me da minha menina, sinto-me uma mãe no Cais de Alcântara a acenar ao magala que embarca para as Colónias. Sendo que, ao menos, aos soldados dávamos uma G3. O que é que estas crianças têm? Uma máscara. Apenas um trapo separa estes jovens e a possibilidade de serem uma das vítimas por cada 35 mil casos na faixa etária dos 0-19 anos. Como é que explico à minha filha que ela pode ser essa hipótese de 0,00285712%? Nunca vai entender. Até porque, por respirar através de um pano e ter défice de oxigénio, tem dificuldade em perceber conceitos básicos da Matemática como “percentagem” e “probabilidades”.

A DGS está a facilitar. Por exemplo, a recomendação de desinfecção das mãos é claramente insuficiente. Os técnicos de saúde nunca devem ter visto crianças num recreio. Não mexem só com as mãos. Estão sempre em contacto, como ovelhas num rebanho. E têm o mesmo nível de asseio. O mínimo exigível era um banho de álcool gel à porta da escola. Depois, em cada sala de aula, instalavam-se daqueles aspersores que há nas secções de fruta dos supermercados, para estarem sempre a borrifar desinfectante em cima da canalha. Ficam com os apontamentos esborratados, mas ao menos estão vivos para os tentarem decifrar.

Também deviam testar a pequenada duas vezes ao dia. A primeira vez, quando chegam de manhã. A segunda, logo 10 minutos depois, não vá o bicho ter-se escondido da primeira zaragatoa. Aproveite-se o facto de, devido às máscaras e à necessidade de captar mais ar, as narinas das crianças estarem a alargar, para lá espetarem três ou quatro cotonetes de cada vez. Aliás, porquê cingirem-se à Covid? Há outras doenças com o mesmo grau de perigosidade para as crianças, como o sarampo, a varicela, a unha encravada ou o joelho esfolado. Testemos todas. E, sempre que virmos os nossos filhos a brincar perto de outras crianças, tenhamos a coragem das autoridades sanitárias brasileiras, que interrompem jogos de futebol para deportar atletas. Não basta o regresso às aulas com segurança, é preciso regresso às aulas com Securitas: homens fardados, de boina e botas cardadas, que mantenham as crianças separadas.

Não nos deixemos enganar por notícias como esta, sobre a raridade de casos graves em crianças, ou esta, sobre a raridade de mortes nesses raros casos graves, ou esta, sobre a manutenção, na variante delta, da raridade de casos graves e da raridade de mortes nesses raros casos graves. São notícias cujo objectivo é tranquilizar-nos para que relaxemos na segurança dos nossos filhos. Lembrem-se que a complacência é inimiga do alerta total nascido do pânico injustificado. A improvável hospitalização causada pela improvável infecção é um risco. E as crianças não devem correr esse risco. Ou melhor, não devem correr riscos. Aliás, não devem correr. Podem cair e fazer um dói-dói.

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