A propagação rápida de um agente patogénico – seja ele vírus, bactéria, fungo ou outro – e as consequências das estratégias de resposta (ou negação) a uma crise gerada por uma ameaça ‘invisível’ têm inspirado criações literárias, radiofónicas, televisivas e cinematográficas há décadas. Do clássico de H. G. Wells, “A Guerra dos Mundos”, no qual alienígenas invasores acabam derrotados por bactérias terrestres, às mais recentes propostas de entretenimento em streaming, onde a exaltação da resiliência humana parte invariavelmente de caos à escala global, não faltam exemplos.

Entretanto, no espaço de apenas algumas semanas, a realidade adaptada para ficção tornou-se no dia-a-dia e, três meses depois da mudança radical do nosso quotidiano, o caminho que temos por percorrer ainda não é claro.

Algo não pode, contudo, passar despercebido: a superação de episódios negros como os trazidos pela pandemia da Covid-19, à semelhança do que aconteceu com a gripe asiática, a gripe espanhola, e outras que, através da sua capacidade infecciosa foram fatais para um elevado número de pessoas, depende, em grande medida, da responsabilização partilhada entre organizações, empresas e sociedade civil nos cuidados preventivos e no desconfinamento consciente.

O regresso à “nova normalidade”, como lhe estão a chamar, será tão bem-sucedido quanto mais precauções forem adoptadas. Ainda que sejam as organizações a serem chamadas à responsabilidade – basta pensar nas últimas três semanas para saber o que as escolas, os lojistas, os restaurantes e os transportes estão a fazer para proteger os cidadãos -, a verdade é que também importa esclarecer outros dois pontos. Por um lado, perceber se todas estas entidades seguem os procedimentos de acordo com uma estratégia de higienização e desinfecção, e, por outro, saber que medidas as próprias pessoas estão a adoptar para evitarem contagiar e ser contagiadas.

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Em ambas as situações, o conhecimento das diferenças entre “sujidade” e “germe”, “limpeza” e “higiene”, ou até mesmo entre “limpeza” e “desinfeção” é fulcral – passar desinfetante na mesa não é suficiente se as maçanetas das portas ou os braços da cadeira não forem considerados. A desinformação tem incentivado a consolidação de “mitos urbanos” – que inclusivamente põem em causa a transferência de cargas virais através dos objetos que manipulamos – e a promoção fragmentada e ineficaz de boas práticas, que se vê reforçada pelo facto de, na maioria dos países, as entidades responsáveis pela matéria trabalharem separadamente, acabando por ser tornar numa barreira significativa ao progresso.

Combater novos desafios pandémicos – sabemos que vão surgir – e superar as consequências que estes impõem, passa não só pelo desenvolvimento tecnológico, que aperfeiçoa os biocidas mais avançados, como pela partilha de informação responsável, assente em integridade científica, e, principalmente, pela consciencialização global quanto ao papel de cada um na mitigação de riscos e na integração regular de comportamentos defensivos nas rotinas – talvez não propriamente ao estilo do túnel desinfetante de Putin.

Quaisquer que sejam as políticas a prevalecer no âmbito da higienização e desinfeção pós-Covid-19, a abordagem de responsabilização dividida oferece um rumo que potencia a proteção e reduz a perturbação do equilíbrio normal do ambiente humano e natural.