A pandemia veio colocar a descoberto uma das maiores fragilidades do Sistema Nacional de Saúde: a saúde mental. É preciso, sem demoras, delinear uma estratégia clara e estruturada que dê prioridade a este desafio de saúde pública. Não há tempo a perder! A saúde mental necessita, indiscutivelmente, de se tornar numa prioridade em Portugal, pois é bastante percetível o elevado impacto que as doenças do foro psicológico têm na qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos, com custos diretos e indiretos para o sistema de saúde. Esta realidade foi agravada e tornou-se mais notória com a pandemia e com o confinamento, com o isolamento, o distanciamento forçado ou o medo do contágio a contribuírem para um aparecimento ou agravamento das situações

É, por isso, hora de tirar a saúde mental do esquecimento e da sombra, assumindo-a como uma prioridade política e social.

Criar um plano estratégico para a saúde mental na rede de cuidados de saúde, bem como disponibilizar meios adequados para dar resposta a quem realmente precisa de ajuda deve ser uma prioridade para a próxima década.

A aposta na promoção da saúde mental, de forma integrada e intersectorial, é o caminho que deverá ser trilhado, seja através da criação de programas de promoção da saúde mental nos ambientes em que as pessoas vivem, estudam e trabalham, seja através da definição de práticas e ações que melhorem a literacia em saúde mental, envolvendo profissionais da área da saúde e educação que contribuam para o enriquecimento da sociedade neste campo.

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É fundamental desenvolver ações de promoção da literacia em saúde mental desde cedo, começando nas escolas, de forma a sensibilizar e consciencializar jovens e crianças para esta problemática, assim como é importante fazê-lo nos locais de trabalho como forma de melhorar a produtividade, a motivação e a sustentabilidade das organizações.

É também prioritário o reforço da oferta de profissionais de saúde nesta área em todo o território nacional, isto porque Portugal carece expressivamente de oferta neste âmbito, sendo a que existe muito assimétrica em termos geográficos. A estratégia deve ainda passar pelo apoio às boas práticas e iniciativas locais dinamizadas, por exemplo, por instituições particulares de solidariedade social que trabalhem na área da prevenção da doença mental ou promoção da literacia em saúde mental, ou na prestação de cuidados aos doentes.

A integração da saúde mental nos cuidados primários de saúde, uma melhor articulação com o setor social, assim como com as organizações da própria comunidade pode, de facto, trazer benefícios e melhorar significativamente a qualidade de vida e bem-estar da população com ganhos evidentes para todos.

Não podia falar sobre saúde mental sem abordar também a saúde mental dos cuidadores informais do nosso país. Estas pessoas assumem muitas vezes responsabilidades para as quais não têm preparação prévia, conhecimento ou até suporte adequado. Tudo isto traz consequências, uma vez que o cuidador pode sentir algumas restrições em relação à sua vida e ter também dificuldade em lidar com as responsabilidades que implicam cuidar de alguém que depende de nós, podendo ser o motor que desencadeia o aparecimento de problemas de foro psicológico. Esta situação foi também agravada durante a pandemia, devido ao encerramento dos centros de dia, com milhares de cuidadores a serem obrigados a ficar em casa sem qualquer remuneração ou compensação social, com as consequências económicas e psicológicas que daqui advêm.

A humanização e a dignificação das respostas sociais, possibilitando às pessoas o acesso permanente a cuidados de saúde mental, com ênfase aos que se encontram em situação de maior exclusão e vulnerabilidade é uma área que precisa igualmente de atenção por parte dos decisores políticos.

Apesar dos mais recentes avanços para a consciencialização e investimento no tema, é ainda necessário combater as fronteiras do estigma, da vergonha e da exclusão, conceitos ainda muito vincados na nossa sociedade, assim como é urgente começar a tratar a saúde mental como uma prioridade para o bem-estar emocional e psicológico de cada indivíduo.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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