Um grande abraço ao meu Avô Luiz

Acabaste de entrar no computador e abrir este artigo para o ler. Aposto que noventa e nove em cem pessoas não faz a mínima ideia do que está realmente a fazer quando escolheu carregar no título deste artigo. E tu, já pensaste?

Este verão passado, trabalhei como empregado de mesa num óptimo restaurante na baixa do Porto. Foi um trabalho exigente, mas recompensador. Todos os dias, durante três semanas, tinha uma vontade esfomeada de ir ao McDonald’s no fim da rua e comprar um hambúrguer, mas não tinha dinheiro…. Três semanas passaram, e tinha finalmente nas mãos o dinheiro que me custou tanto a ganhar. Já sentiram aquela emoção de maravilha que o vosso primeiro salário vos suscitou? Depois de cento e oitenta horas a anotar pedidos, limpar mesas e ter de ser ensinado todos os dias pelo meu chefe até a fazer as tarefas (alegadamente) mais simples, estava empolgadíssimo: podia finalmente comer o hambúrguer que tanto queria. Por isso saí do restaurante, andei uns cem metros e abri a porta do McDonald’s. Devo ter ficado uns cinco minutos especado a olhar para o placard lá dentro, a pensar:

– O Big Mac custa cinco euros…. Será que o devia comprar?

Deparava-me com uma escolha.

Mas o que são escolhas? A escola austríaca de pensamento económico baseia todo o seu raciocínio num simples mas irrefutável axioma: Ação é comportamento propositado. E toda a ação ocorre porque existe escassez: se tivéssemos tempo ilimitado, precisaríamos de escolher entre uma ação ou outra? A verdade é que todas as escolhas são custos de oportunidade. Os custos de oportunidade são todas as coisas de que estamos a abdicar para fazer o que escolhemos. Para comprar o Big Mac, eu teria de abdicar não só de uma hora da minha vida, mas também das outras coisas que podia fazer com esse dinheiro.

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Todas as nossas escolhas implicam custos de oportunidade. Para quem está a acabar a faculdade, como eu, o que deveríamos fazer? Se escolhermos começar a estudar para um mestrado, estamos a abdicar de todos os outros mestrados que podíamos alcançar com esse tempo, o dinheiro que o mestrado custa e também toda a experiência e todos os salários que podíamos estar a receber ao arranjarmos um emprego. Posto desta forma, ainda estás interessado em ir para o mestrado?

O lado positivo dos custos de oportunidade é que afetam não só a ti, mas também outras pessoas. Como só podes fazer algo à custa de outras coisas, quando compras um produto também estás a fazer com que outros produtos não sejam comprados. Consequentemente, estás a canalizar os recursos da sociedade, não só para produzir os produtos que acreditas que te podem satisfazer melhor as necessidades, mas também que podem satisfazer melhor as necessidades dos outros! Tu mesmo podes incentivar a produção de bens e serviços em que tu acreditas ao comprá-los, ou investindo nas empresas que os produzem; tu mesmo podes reduzir os seus preços a longo prazo para que mais pessoas os possam adquirir! Isto também faz com que os preços de todos os outros bens, que decidiste não comprar, aumentem, porque as empresas estão todas a concorrer pelos mesmos recursos. Todas as escolhas são custos de oportunidade. Queres ajudar o meio ambiente? Compra coisas usadas, ou de empresas que as produzam com qualidade de forma que durem mais tempo. Vais estar a libertar recursos que podem ser usados para satisfazer outras necessidades mais urgentes ao comprar coisas usadas, e vais estar a sinalizar às empresas, através do lucro que obtiveram, que estão a fazer algo acertado ao produzir produtos de qualidade. Isto vai incentivar a que produzam mais desses produtos, e fomentar concorrência nesse setor entre as empresas para captar mais consumidores, baixando o preço dos bens. O preço de algo pode ser considerado o custo de oportunidade dos recursos que utiliza. O mesmo raciocínio se aplica se quiseres ir para o mestrado e ajudar o sistema académico.

Dentro de um mercado livre, temos o poder para mostrar como queremos que a sociedade funcione, sem termos de usar violência. Que bênção!

A nossa vida é feita inteiramente de escolhas. As nossas escolhas definem quem somos, o que fazemos, e as consequências que enfrentamos no futuro. Escolhas definem a nossa condição humana: antecedem e também sucedem o livre-arbítrio. Conseguiriam imaginar uma vida sem escolhas? Viver é escolher e escolher é viver. E se todas as escolhas são também custos de oportunidade, então a vida não é mais do que custos de oportunidade. Defender a Liberdade é defender a Vida.

Mas nem todos querem isto. Quando somos proibidos de ter o poder para mudar o mundo, devido a taxas, regulações, leis positivistas, violência, não conseguimos viver. Quando somos proibidos de ver o verdadeiro custo de uma escolha, porque o seu preço foi artificialmente aumentado ou diminuído, não conseguimos viver. Quando só podemos escrever num pedaço de papel a cada quatro anos o partido em que queremos votar, em vez de escolher todos os dias entre milhares de diferentes produtos e empresas, não podemos viver. E isto é o que todos os coletivistas e autoritários pelo espetro político à nossa “esquerda” ou “direita” querem. Planeamento centralizado da economia é uma droga envenenada: usa-a para satisfazer momentaneamente o teu cérebro, e vais estar a causar danos irreparáveis a todas as partes do teu corpo. Para sempre. Os coletivistas querem favorecer os seus grupos de interesse especial (que votam neles e os apoiam), sem considerar todas as pessoas que estão a prejudicar ao longo do caminho: de uma forma visível ou invisível. Todas as escolhas são custos de oportunidade. Escolher construir uma autoestrada onde já existem outras duas é bom para os empreiteiros. Mas é má para todos os outros negócios e empregos que acabaram por não ser criados porque o Estado nos cobrou impostos: as autoestradas são vistas, mas os restaurantes, as casas, os carros, as escolas, agora nunca o poderão ser. O maior problema dos coletivistas, é que é impossível saberem o que as pessoas realmente querem (votar num partido de quatro em quatro anos não é votar numa escolha específica, ou sequer num programa de escolhas já cem porcento definido). O Estado escolher por ti é como uma pessoa cega conduzir um carro contigo lá dentro: eventualmente vai-se espatifar.

Enquanto estive especado a olhar para o placard do McDonald’s durante horas, como um lunático, apercebi-me de que estaria a desperdiçar uma hora da minha vida para comer “comida de lixo”. Por isso saí do McDonald’s com o dinheiro no bolso, com a consciência de que podia não só estar a melhorar a minha vida, mas melhorar a vida de outros, ao alocar os nossos recursos de uma forma mais produtiva.

Se escolhas são vida, então vamos devolver o poder de escolha de volta à pessoa comum: o poder sobre a sua própria vida, que não magoa nenhum terceiro. O poder que o Estado taxou, regulou, legislou: matou.