Quando olho para o gráfico do número de infeções por dia fico com a perceção que estamos a ver a segunda onda a formar-se lá ao fundo, mas que ainda ninguém fugiu!

Estamos naquela fase em que a praia ficou maior com o recuo da água e toda gente está a aproveitar o momento. Passar o fim de semana com a família, ir ao teatro, fazer o batizado, ir jantar fora com os amigos!

Temos apenas algumas pessoas a avisar-nos que devemos ir todos para zonas mais altas, prepararmo-nos como deve ser, organizar as equipas de busca e salvamento, montar hospitais de campanha, etc.. Contudo, outras pessoas, com cargos políticos, que dizem para não nos preocuparmos, para irmos para o bar de praia, para ajudar a economia!

Entretanto, a onda, que lá ao fundo era pequena fica um pouco maior, levando algumas pessoas a recolherem-se nas suas casas com vista de mar! Mas certamente será insuficiente se a onda for maior do que a casa.

Como temos poucos minutos antes da onda chegar, agora instala-se o pânico e em vez de evacuarmos organizadamente, fugimos em todas as direções!

Agora já é tarde, daqui a duas semanas veremos os 2,5% dos cinco mil casos diários a entrar nas UCIs dos hospitais! São mais 125 doentes em camas de UCI que não existem!

E o dobro dos doentes internados nas enfermarias! E os doentes não Covid?

Uma simples fratura que aguarda cirurgia será protelada e que poderá resultar em morte! Impensável nos dias de hoje! É certo que as emergências terão resposta, mas todas as outras situações simples poderão resultar em morte por falta de acesso à saúde! São os exames e biópsias que não são efectuados e os cancros serão descobertos tarde demais! Serão as consultas que não se conseguem fazer com os doentes a entrar no hospital descompensados! Mas como não há camas, ficam à porta do hospital!

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Se o estado de emergência tivesse sido imposto quando tínhamos apenas 240 casos/dia por cada 100 mil habitantes, poderíamos então manter uma estratégia de fechar cirurgicamente as zonas de maior transmissão! Agora, para conseguirmos achatar a curva levaremos meses! Com muito sofrimento! A pergunta que faço aos apologistas da economia é: quantas mortes Covid/não Covid estão dispostos a aceitar para manter a economia aberta? 100 por dia? 500 por dia? Talvez mil por dia? Isto dito assim, parece apenas contabilidade, mas se transpusermos esta realidade  para cada um de nós é o equivalente a dizer que na minha família alargada de 100 pessoas não estarão cá, connosco, cerca de cinco pessoas, ou mais, no próximo ano!

E a onda vai ser tão grande e tão desvastadora, que agora apenas podemos isolar-nos o mais possível para ajudar o exército branco a combater a pandemia e a manter os cuidados a todos os portugueses!

A melhor ação que cada um pode fazer, é não ficar doente e não dar oportunidade nenhuma de infetar os outros!

Ajudem-nos, nós estamos cansados, precisamos que organizem o Natal à distância para que possamos ter muitos outros Natais em família com os nossos avós, pais, irmãos, filhos! Abdiquem este ano para terem muitos outros anos!

Cabe a cada um de nós fazer o nosso papel! Não digam que é só uma vez! Não façam, usem o Zoom!

Nao deixem que a onda nos afete!

Fiquem longe, fiquem a salvo!