A Covid-19 alterou profundamente a nossa realidade e os nossos hábitos. Pandemia, quarentena, isolamento, confinamento e outras palavras semelhantes tomaram conta do nosso quotidiano. A pandemia tem causado muitas vítimas, não apenas as que sofrem e morrem como resultado directo da infecção, mas também as que sofrem com o isolamento, com a perda de trabalho e rendimentos, ou com outras doenças não diagnosticadas ou não adequadamente tratadas neste período.

Mas a Covid-19 veio também agravar outra das principais pandemias da actualidade: a obesidade. Com a pandemia vieram as limitações com impacto na actividade física e na alimentação, a par do isolamento social e do seu reflexo nos afectos e no humor.

Infelizmente, a obesidade também agrava a Covid-19, uma vez que aumenta o risco de desenvolver a doença, associando-se a uma maior gravidade em caso de infecção. O cenário parece ameaçador, mas não tem de o ser.

Felizmente, em Portugal, ao contrário de outros países, tivemos sempre a possibilidade formal de manter actividade física no exterior. Não podemos esquecer que, com o confinamento, a distância social e o teletrabalho, perdeu-se, para além da actividade física formal, muita da informal que resultava do nosso dia-a-dia, das pequenas deslocações, de encontros e das pausas de trabalho.

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Ainda que limitados no acesso a espaços como ginásios, pavilhões e piscinas, continuámos sempre a poder praticar actividade física, seja em casa, seja ao ar livre. Caso não se verifique a obrigatoriedade de permanecer em casa, por ter doença activa ou por estar em isolamento ou quarentena, podemos fazer caminhadas e corridas. Podemos, por exemplo, usar mais as escadas e menos os elevadores com o devido cuidado.

Os profissionais de actividade física e desporto também souberam reinventar-se e adaptar-se, concretizando de forma mais acelerada aquilo que vinha a ser uma tendência nos últimos tempos: a prática física ao ar livre e o coaching online.

A alimentação é outra das dimensões potencialmente problemáticas. Com a pandemia e o confinamento verificou-se a tendência para uma alimentação nutricionalmente menos interessante, ditada pela mudança de hábitos, pelo desvio natural para a “comida de conforto”, pelo apelo prático das refeições pré-preparadas ou encomendadas.

A expansão das plataformas de entrega de comida em casa e takeaway pode, assim, surgir como um problema, se derivarmos para a comida com alta densidade calórica e baixo valor nutricional, como alguma da chamada fast food.

No entanto, aqui podemos ter uma outra oportunidade: esta nova realidade também veio oferecer uma grande variedade de opções mais saudáveis, disponibilizando refeições práticas e equilibradas, compatíveis com uma boa alimentação.

Por outro lado, os períodos mais longos de permanência em casa não têm de ser necessariamente um convite para um puro e simples consumo de comida, podendo, antes, ser um desafio à imaginação na cozinha, aplicando-se regras fundamentais de preparação com uma boa selecção de ingredientes frescos e de confecção com menos gordura e sal.

São soluções para tempos de pandemia que podemos, e devemos, aplicar noutras ocasiões.

Esta fase exige ainda que controlemos os nossos problemas de saúde, mantendo o contacto regular com os profissionais de saúde que nos acompanham. No meio das dificuldades, assistimos a uma aceleração da evolução nos cuidados, com o reforço das medidas de segurança e com o crescente recurso às novas tecnologias.

A telemedicina veio para ficar, constituindo uma alternativa ou complemento em muitas das situações que, anteriormente, implicavam a deslocação à unidade de saúde. Daqui resulta, que hoje contamos com um conjunto ainda mais diversificado de formas de apoio, garantindo os cuidados necessários nestes tempos mais desafiantes.

Assim, a actual pandemia por este coronavírus, a par da pandemia da obesidade, representa uma fase duplamente difícil, mas apresenta-se também como uma oportunidade. O que não devemos é fazer de conta que os problemas do excesso de peso e da obesidade não existem, que podem esperar, que ficam onde os deixamos. Não ficam. Agravam! A avaliação, tratamento e acompanhamento do doente com obesidade é ainda mais importante neste contexto de pandemia.

Temos todos de ser activos e proactivos, tomando este como um momento de mudança para melhor. Não podemos adiar a saúde!