A mensagem chegou aos telemóveis dos militantes do PSD do Barreiro na tarde de sexta-feira, dia de eleições para a distrital, com o remetente identificado como “DGS”. Nela, lia-se que existe um “surto pandémico na Santa Casa da Misericórdia do Barreiro” e apelava-se aos destinatários para que ficassem em casa. Num primeiro momento, todos os que receberam a mensagem acreditaram no que ali estava escrito. E entre “o pânico que se instalou”, como conta um dirigente do PSD ao Observador, e os contactos com as entidades envolvidas, os sms foram sendo repartilhados. Por essa altura, a informação tinha chegado já à provedora da instituição, que veio esclarecer que não havia surto nenhum e que a mensagem era “totalmente falsa”. O que se passou afinal?

Para já, ninguém sabe quem é o autor ou os autores das mensagens. Mas no PSD há “suspeitas inacreditáveis” de que se possa estar perante uma “manobra” para tentar condicionar as eleições distritais que se realizaram nesse dia. Desde logo porque a mensagem, que pedia que se “ficasse em casa” terá sido apenas inicialmente enviada aos militantes do partido no Barreiro com quotas pagas e, precisamente, no dia em que se realizavam as eleições para a distrital de Setúbal.

SMS que foi enviado na sexta-feira e que circulou durante o dia no Barreiro.

O ainda presidente, Bruno Vitorino, atingiu o limite de mandatos, mas concorria à mesa da assembleia distrital na lista A, encabeçada agora pelo seu vice, Paulo Simões Ribeiro, que veio a ganhar largamente destacada naquela concelhia (212 votos para a mesa da assembleia distrital e 209 para a comissão permanente distrital de um total de 217 votantes. A disputar a liderança da distrital estava a lista R, liderada por Pedro Tomás, antigo presidente da JSD de Setúbal. A convicção entre os apoiantes da lista A é a de que tudo se tratou de uma guerra interna para tentar desmobilizar alguns militantes da ida às urnas, mas ninguém arrisca um claro apontar de dedo.

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Certo é que o caso extravasou a vida interna do PSD local e chegou aos ouvidos (e ao telefone) do autarca da cidade. Ao que o Observador apurou, a partir do momento em que as mensagens começaram a circular, no telefone do próprio Presidente da Câmara do Barreiro, Frederico Rosa, do PS, começaram “a chover chamadas”, como descreve um dirigente socialista local. “Houve pânico geral, assumimos que era verdade”. Não era.

À medida que as mensagens se espalhavam e que o rumor ganhava força, os dirigentes da distrital do PSD, apurou o Observador, entraram em contacto com a DGS, que negou ter enviado aquele SMS, e com a provedora da Santa Casa da Misericórdia do Barreiro, Sara Xavier de Oliveira, que tinha já conhecimento das mensagens e que também desmentiu a informação.

A provedora, aliás, acabou por lançar um comunicado a garantir que a informação “é totalmente falsa e que constitui um ato de enorme gravidade por difundir uma mentira que lança o pânico na comunidade”. Como era de esperar, o rumor causou impacto entre os funcionários e os familiares de utentes do lar. “Gostaríamos de assegurar aos familiares das muitas centenas de utentes que se encontram ao nosso cuidado que, até ao momento, não há registo de qualquer caso suspeito ou confirmado de COVID-19”, pode ler-se no comunicado.

Sara Xavier da Costa adianta ainda que já comunicou as autoridades competentes “para os devidos efeitos, designadamente, para procedimento judicial”. O Observador tentou contactar a DGS, mas aguarda uma resposta.

SMS recebido na sexta-feira a alertar para o perigo de um suposto surto pandémico na Santa Casa da Misericórdia do Barreiro

Numa mensagem enviada na sexta-feira aos militantes do PSD do Barreiro, a que o Observador teve acesso, Bruno Vitorino, presidente da distrital (que agora cessa o mandato), confirmava que a “mensagem é falsa”. “Somente os militantes do PSD do Barreiro a receberam. Algo que nos deixa ter suspeitas inacreditáveis de algo que todas as pessoas de bem nem querem acreditar”, refere.

Ao Observador, Vitorino disse o mesmo que tinha dito à revista Sábado, que avançou com a história, de que este “não é um caso de política, é de polícia”. Sem querer acrescentar mais comentários, diz apenas esperar que as entidades competentes “possam ser capazes de identificar e responsabilizar quem está por detrás disto”. “Como é possível alguém fazer uma coisa destas?”, pergunta Bruno Vitorino, que confirma que vai apresentar queixa esta semana.