Lideranças saudáveis, mudanças de hábitos, controlo dos níveis de stress e psicólogos nas empresas. É este o caminho sugerido pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), que apresentou esta manhã  a Healthy Workplaces Manage Stress, uma campanha internacional da Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, que se estende por mais de 30 países para sensibilizar as organizações sobre riscos psicossociais.

Descurar no controlo de stress traduz-se em custos avolumados. Para as pessoas e para as empresas. O documento entregue pela OPP revela que o stress no trabalho é uma questão organizacional e que o seu custo estimado é 240 mil milhões por ano: 136 mil milhões de euros são relativos a perdas de produtividade (incluindo baixas por doença); 104 mil milhões de euros são afetos aos custos associados a tratamentos e acompanhamento. A OPP não consegue precisar qual é o valor para as empresas portuguesas, mas estima que nunca estará abaixo dos 300 milhões de euros, sendo que as áreas mais afetadas são a Saúde e Educação.

Se o absentismo é uma consequência natural dos distúrbios na saúde mental, o “presentismo” — ir trabalhar sem estar em condições, ou seja, produzir menos — é um problema mais complicado de quantificar mas que, ainda assim, pode custar duas vezes mais do que uma ausência.

As causas do stress relacionadas com o trabalho prendem-se maioritariamente com quatro fatores: carga de trabalho excessiva ou tempo insuficiente para terminar as tarefas; exigências contraditórias e falta de clareza nas funções; desencontro com as exigências do trabalho; e as competências necessárias e falta de envolvimento na tomada de decisões.

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Telmo Mourinho Baptista, Bastonário da Ordem dos Psicólogos, diz que tem de haver uma mudança de mentalidade. “O stress não deve fazer parte do dia-a-dia. Parece que aceitamos e achamos normal.” Os sinais de alerta são variados: alterações emocionais (ansiedade, cansaço, mau relacionamento com os colegas),  problemas cognitivos (dificuldades de concentração e em tomar decisões), mudanças de comportamento (não cumprir horários, desleixo e agressividade) e doenças psíquicas e mentais (faltas mais frequentes ao trabalho).

Os trabalhadores da União Europeia atribuem o stress a três principais razões: reorganização do trabalho ou precariedade profissional (72%), carga de trabalho excessiva (66%) e comportamentos inaceitáveis como a intimidação ou o assédio (59%). Metade destes trabalhadores dizem que não há gestão de stress no seu local de trabalho. Estima-se que entre 50 e 60% das ausências de trabalho seja por stress.

A OPP, que admitiu haver reticência por parte das empresas portuguesas em colaborar, informou que em 90% dessas empresas existe um médico de trabalho mas que apenas 12,5% conta um psicólogo. Esta campanha visa também sensibilizar e aproximar os sindicados e aumentar a prevenção. Segundo a Ordem, alguns estudos apontam que uma prevenção eficaz se traduza num retorno de um para cinco ou, noutros casos, a cada euro investido regista-se um retorno de nove euros.

Para a Ordem dos Psicólogos, que até já teve reuniões na União Europeia com vista à alteração da lei, é necessário “obrigar as empresas a avaliar os níveis de stress“. Há, no entanto, grandes empresas portuguesas já disponíveis para colaborar, mas que a OPP optou por não identificar.

Esta temática terá novos desenvolvimentos no Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses, que terá lugar entre 10 e 15 de setembro, no Centro Cultural de Belém.