O líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Afonso Dhlakama, disse esta sexta-feira que vai contestar os resultados das eleições de quarta-feira, mas prometeu que “não vai haver mais guerra no país, segundo a Reuters.

Os resultados provisórios já divulgados apontam como vencedor o partido Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e o seu candidato, Filipe Nyusi, com 62% dos votos. Dhlakama, que terá ficado em segundo lugar com 31%, considera que houve irregularidades durante as votações e denunciou a existência de fraude eleitoral, pedindo a anulação das eleições. “As pessoas têm de perceber que estas eleições não foram livres, justas ou transparentes”, disse à Reuters.

Também Daviz Simango do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), que ao que tudo indica ficará em terceiro lugar com cerca de 7% dos votos, disse ter conhecimento de vários casos de irregularidades e de fraude.

Os observadores da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (conhecida, em inglês por SADC) e da União Africana consideraram o ato eleitoral aceitável. A ministra dos Negócios Estrangeiros sul-africana, Maite Nkoana-Mashabane, que liderou a missão da SADC nestas eleições, utilizou as mesmas palavras de Dhlakama para dizer o contrário, descrevendo o voto de quarta-feira como “pacífico, transparente, livre, justo e credível, de uma forma geral”.

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A missão da União Europeia que monitorizou as eleições em Moçambique teve uma opinião diferente e considerou que, apesar de o voto ter decorrido de forma ordeira, a campanha foi “desequilibrada”, com a Frelimo em “clara vantagem”. Isto porque, como explicou Judith Sargentini, deputada holandesa no Parlamento Europeu que liderou a missão, a Frente de Libertação de Moçambique utilizou fundos estatais durante a campanha. Para além disso, terá beneficiado de uma cobertura enviesada por parte dos meios de comunicação do Estado.

As declarações de Dhlakama e as suspeitas de que possa ter existido fraude eleitoral levantam alguns receios de novos ataques por parte dos partidários armados da Renamo. Durante cerca de 17 meses, Moçambique viveu num estado de guerra não declarada com confrontos entre a Renamo e as forças governamentais. Este conflito fez temer pelo regresso à guerra civil que entre 1975 e 1992 custou a vida a um milhão de moçambicanos.

Há cerca de um mês e meio, Dhlakama e o presidente cessante Armando Guebuza, da Frelimo, chegaram a um acordo que pôs fim a esses ataques e impediu Guebuza de concorrer pela terceira vez a um mandato presidencial. Apesar de a contestação eleitoral do líder da Renamo, este disse à Reuters que não haverá guerra: “Posso garantir que não haverá mais guerra em Moçambique”.

Mas na quarta-feira, depois do fecho das urnas, alguns apoiantes da Renamo envolveram-se em confrontos com a polícia na Beira e em Nampula. Uma pessoa foi ferida e mais de 30 foram detidas.

Para além de serem as primeiras eleições depois do acordo que pôs fim à tensa situação vivida nos últimos meses, este ato eleitoral foi considerado fundamental para a estabilidade económica de Moçambique, que está na mira do investimento estrangeiro depois da descoberta de reservas de carvão e de gás natural. A nação empobrecida regista atualmente taxas de crescimento económico de 8% ao ano.