As mais belas histórias de amor em prosas e poesias falam sempre de um sentimento forte e arrebatador. Mas não precisamos de nos socorrer da ficção para saber de casos em que o amor sobreviveu a tudo: as fotografias que se seguem são exemplo disso.
“Where Love Is Illegal“ é o nome do projeto de Robin Hammond, conhecido pelo trabalho na área dos Direitos Humanos e das questões do desenvolvimento. O objetivo do fotógrafo é o de “documentar histórias de violência contra LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Intersexo) e de sobrevivência à violência, no mundo inteiro”, conta o próprio ao site NOW.
Em cima estão D. e O., um casal de lésbicas, cidadãs russas. Foram atacadas na rua por estarem de mãos dadas. O fotógrafo começou por deslocar-se a países com leis que penalizam homossexuais e transgénero. Passou pela Nigéria, Uganda, África do Sul, Camarões, Malásia, Rússia e Líbano. Agora já conta com testemunhos de 15 nacionalidades, todos com uma história de discriminação: ou por parte das leis e do governo, ou por parte da sociedade.
As relações entre pessoas do mesmo sexo são ilegais em 76 países do mundo. Mais de trinta estão em África. No Uganda, por exemplo, uma das estratégias passa por publicar uma lista com o nome e a fotografia de todos os homossexuais, para o achincalhamento público. Ainda em maio, o presidente da Gâmbia referia-se aos homossexuais como “bichos piores que os mosquitos da Malária” e dizia que a sigla LGBT significava “Lepra, Gonorreia, Bactérias e Tuberculose”. Moçambique também fazia parte da lista mas a situação mudou em junho, mês em que a homossexualidade deixou de ser crime. Antes, a lei permitia aplicar “medidas de segurança” a quem se dedicava a “vícios contra a natureza”.
“Fomos levados para a prisão, bateram-nos e obrigaram-nos a trabalhos forçados” contam Rihana e Kim (Uganda), um casal gay entrevistado para o projeto.
Se ser homossexual é tão perigoso nestes sítios, como é que Robin conseguiu arranjar casos para fotografar? “Grande parte das pessoas com quem eu me queria encontrar estavam a dar o seu melhor para não serem encontradas”, explica. Por isso, o fotógrafo trabalhou com organizações locais de direitos LGBTI para encontrar sobreviventes.
No momento em que os encontrou, os protagonistas já estavam seguros. “Não podia estar lá quando estas pessoas estavam a enfrentar atos de discriminação e perseguições, por isso tive de confiar nos testemunhos pessoais”, esclareceu.
Foi tudo discutido entre fotógrafo e protagonistas, incluindo as poses, as roupas e os sítios para fotografar. No fim, Robin deu “poder de veto” para validarem, ou não, as fotografias. Se não estivessem confortáveis com o resultado final, podiam destruí-las, revela o próprio no New York Times. “Dar-lhes este poder no processo fê-los sentirem-se seguros e mudou a nossa relação”, explica. Foram também os próprios a escrever a história por que passaram.
Sobre a necessidade de dar rosto a estes casos, Robin responde: muitas das pessoas que encontrou “achavam que eram as únicas a ter uma atração por pessoas do mesmo sexo” ou a “sentirem a necessidade e a vontade de terem uma identidade diferente daquela com que nasceram”. Por isso, era importante criar uma plataforma de forma a juntar todas as histórias, para “amplificar as vozes” e para dizer às pessoas LGBTI “que elas não estão sozinhas”, acrescentou ao site NOW.
Olwetu e Ntombozuko são da África do Sul. Ntombozuko foi atacada duas vezes por ser lésbica. Na primeira vez, um grupo de homens gritou: “Essas cabras estão a tentar roubar-nos as mulheres!”. Na segunda vez, foi espancada. Diz que “o amor da companheira ajudou-a a recuperar da dor”, lê-se no testemunho que consta no site do projeto. Estão juntas há oito meses e querem casar.
O “Where Love Is Illegal” é feito em grande parte de histórias de casais do mesmo sexo, mas também há histórias de pessoas transgénero e bissexuais. Na fotografia seguinte vemos Jessie, uma mulher transgénero que vive num campo de refugiados no Líbano. O irmão e o pai tentaram matá-la várias vezes por causa da sua identidade de género.
No New York Times, Robin confessa que este foi um caso que o surpreendeu. Quando perguntou a Jessie como é que ela queria a fotografia, ela fez uma pose sensual. “Não era o que eu imaginava”, admitiu. Depois, conversaram sobre as dores que enfrentou e eis que Robin lhe diz: “Não era mais fácil se simplesmente fingisses ser um homem?”. Jessie responde: “Eu nasci assim e vou morrer assim!“. Mesmo que seja para sempre ilegal.