O ex-Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), António Guterres, afirmou em Otava, ser necessária a criação de um “mega programa global” de reinstalação de refugiados como uma das soluções da crise migratória.

“É evidente que com a gravidade da crise síria precisamos de recorrer a todas as soluções, mas uma delas, que seria desejável de meter em prática, seria um ‘mega programa de reinstalação (de refugiados), envolvendo não apenas na europa, mas todos os países do mundo disponíveis para cooperar”, disse à agência Lusa António Guterres.

O antigo primeiro-ministro português participou no “Fórum Otava 2016”, num painel subordinado ao tema “Pessoas Deslocadas e o seu Efeito na Estabilidade Global”, uma iniciativa do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Otava e da organização não-governamental Canadá 2020.

António Guterres falou na necessidade de investir nos países de primeiro asilo como a Turquia, Jordânia e Líbia, e fundamentalmente em duas áreas.

“A educação e o acesso ao mercado de trabalho, para que os sírios que vivem nesses países possam ter melhores condições e diminuir a pressão para movimentos secundários. Ao mesmo tempo, no interior da própria Europa, é importante colocarem em prática um mecanismo de receção eficaz”, defendeu.

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António Guterres sublinhou também a importância de uma distribuição de todos os que chegam que têm necessidade de proteção por todos os países europeus numa base justa, visto que têm de ser as instituições europeias e os Estados a controlar este processo, e “não os traficantes e os contrabandistas, como tem sucedido até agora”.

António Guterres recordou que quando tomou posse como Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados havia 36 milhões de pessoas deslocadas por conflito, quer interna quer externamente, e quando cessou funções, em dezembro de 2015, já havia mais de 60 milhões.

O antigo primeiro-ministro lamentou a hostilidade que a comunidade muçulmana tem sofrido relativamente aos ataques terroristas.

“A expressão de hostilidades aos refugiados, só porque são muçulmanos tem obviamente como consequência ajudar a propaganda do grupo extremista Estado Islâmico (EI) e criar um sentimento de revolta nos cidadãos muçulmanos dos países que anunciam esse tipo de políticas. Trata-se de uma forma pouco sensata de intervir”, frisou António Guterres.

Para o antigo Alto Comissário, os principais riscos do terrorismo vêm comunidades que se “sentem discriminadas”, onde é fácil ao EI encontrar apoios. Essas comunidades estão “estabelecidas nos países”, não são os refugiados que representam risco para ações terroristas.

A Assembleia Geral das Nações Unidas elegeu António Guterres, em maio de 2015, como Alto Comissário para os Refugiados, e cessou funções em dezembro de 2015.

Na semana passada, o Governo português anunciou que vai apresentar a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas, sublinhando que se trata de “um imperativo”.

O ex-primeiro-ministro vai ser homenageado ainda hoje à tarde (hora local) pela Universidade de Carleton, em Otava, com o grau “Doutor Honoris Causa” num reconhecimento à sua liderança na proteção dos refugiados em termos globais.