A campanha de Donald Trump é conhecida pelos ataques violentos e a China não escapou. Entre as medidas que o candidato republicano pretende adotar, caso seja eleito presidente, estão a taxação de bens produzidos no estrangeiro e o regresso da produção de produtos como o iphone de volta para território americano. Como já é habitual, a forma como estas medidas foram anunciadas, não foi propriamente simpática e Trump chegou mesmo a fazer troça da pronúncia asiática quando se referia à China.

Até agora, a China tinha-se remetido ao silêncio em relação a todas as críticas de que tem sido alvo, mas esta semana o Global Times, jornal detido pelo Estado chinês, publicou um editorial no qual revela os perigos de eleger uma pessoa como Trump para a presidência.

O editorial tece críticas duras ao candidato, que diz ter aberto “a caixa de Pandora nos EUA”. O jornal refere que os comentários do empresário são “racistas e extremistas” e compara a violência recorrente nos comícios de Trump a uma situação que seria comum em países “em desenvolvimento”, mas que não é apropriado num país com “um dos mais desenvolvidos” sistemas democráticos do mundo.

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No texto lê-se, ainda, que, apesar de a eleição de Trump ser pouco provável, só o avanço que já ganhou nas primárias, é um sinal de alarme de uma sociedade com os valores abalados pela crise. A comparação do candidato “narcisista”, que foi subestimado pelo partido, com Hitler ou Mussolini, devia lembrar que ambos os ditadores chegaram ao poder através de eleições democráticas e que os seus argumentos “populistas” estão a convencer o eleitorado.

“A ascensão de um racista na arena política dos Estados Unidos preocupa o mundo inteiro”, avisam no editorial, e terminam dizendo que o país devia-se preocupar mais em “não ser uma fonte de forças destrutivas contra a paz mundial” em vez de “apontar dedos a outros países pelo seu assim chamado nacionalismo e tirania”.

Mas o Global Times não é o único a insurgir-se contra as afirmações de Trump. Wang Dan, um estudante que liderou a manifestação de estudantes de 1989, condenou a linguagem que o multimilionário usa, alegando que se assemelha com a comunicação feita pelo Partido Comunista. Wang Dan escreve que se “uma repressão pode ser louvada como uma ‘poderosa ação’, o que é que isto diz sobre os valores americanos, especialmente quando essa ruidosa descaracterização vem de um candidato presidencial?”.

Outro manifestante, Wu’er Kaixi, serviu-se da sua conta de Facebook para manifestar a sua preocupação: “Aqueles que lutaram pela liberdade em qualquer parte do mundo estão preocupados. Alguma coisa está a mudar na América”. Kaixi descreve ainda o candidato como “um inimigo dos valores pelos quais a América se define — os mesmos valores que durante muito tempo deram esperança às vítimas de poderes opressivos em todo o mundo”.

Wang Liming, cartoonista chinês exilado no Japão, partilhou um cartoon “para Trump”, na sua conta de Twitter, onde o empresário aparece num tanque a derrubar um manifestante enquanto declara “Esta é a melhor coisa que importamos da China”.

Estas são as reações do jornal estatal e de dissidentes do regime Chinês. Ainda assim, o governo chinês já adiantou que não tenciona cortar relações com os Estados Unidos, independentemente de quem ganhe as eleições.