Os campos já verdejam naquela vila austríaca. Mas nem estes sinais de primavera ofuscam as memórias fantasmagóricas de Mauthausen, onde houve em tempos um campo de concentração controlado pelos nazis. Há 71 anos, as tropas norte-americanas tomaram controlo do campo de concentração e libertaram os quase 100 mil sobreviventes das atrocidades alemãs da II Guerra Mundial. Outros tantos já tinham morrido.

A estrutura do campo de concentração de Mauthausen, mandado construir por Adolf Hitler, era muito semelhante a uma fortaleza medieval. No centro havia uma praça chamada Appellplatz, que estava rodeada de vinte barracões: agora sobram apenas três, porque os restantes foram vendidos para poupar dinheiro à Alemanha Nazi ou destruídos já depois da II Guerra Mundial. Era dentro desses barracões que os prisioneiros dormiam, em cima de colchões de palha dispostos no chão. Ao lado estavam as casas de banho, com condições precárias.

A maior parte das vítimas de Mauthausen não morreram à conta dos assassinatos perpetrados pelos soldados, pelo menos quando se faz a comparação com Auschwitz. Aqui, as pessoas – que vinham de todos os extratos sociais – morriam de extremo cansaço, desnutridas e sem acesso a cuidados médicos. Muitas delas trabalhavam numa pedreira com 70 a 80 metros de profundidade, de onde extraíam granito. Depois eram obrigadas a levar a pedra às costas, de volta ao campo, subindo uma escada íngreme com 186 degraus, cada um com meio metro de altura.

Muitos chamavam a essa escadaria de “estrada da morte”. Os soldados alemães costumavam empurrar os prisioneiros quando eles chegavam ao cimo das escadas, morrendo do impacto ou esmagados pelos colegas. Outras vezes, incitavam os prisioneiros a suicidarem-se, convencendo-os a atirarem-se dessa escada: eram os “paraquedistas”, diziam os soldados nazis.

Mas havia mais formas de tortura. Uma delas eram os “duches gelados”, quando os nazis levavam os prisioneiros para o pátio em dias de muito frio e lhes despejavam água quase congelada em cima. A água era um instrumento de flagelo muito comum: às vezes, os homens de Hitler colocavam as cabeças dos prisioneiros em poças de água quando eles ainda estavam vivos, mas sem capacidade para se mexerem depois de serem agredidos. Outras vezes eram atirados aos cães, submetidos a injeções letais, enforcados ou baleados até à morte. No meio do desespero, muitos dos prisioneiros acabavam por se atirar às vedações do campo e morriam eletrocutados.

Embora houvesse uma câmara de gás neste campo de concentração, ela era extremamente pequena e usada com pouca frequência. Das 100 mil pessoas que morreram neste campo, 3500 foram mortas nessas câmaras. Depois, os corpos eram queimados em fornos crematórios. Recorde na fotogaleria algumas das imagens da libertação do campo de concentração de Mauthausen, guardadas secretamente pelo fotógrafo espanhol Francisco Boix e que serviram, anos mais tarde, para julgar alguns dos criminosos do tempo da II Guerra Mundial.

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