É uma “originalidade”, diz Luís Marques Mendes. A confirmar-se a notícia do dia, Bruxelas prepara-se para abdicar, para já, das sanções a Portugal e Espanha por incumprimento da meta do défice em 2015, mas deverá dar mais três semanas a estes dois países para que avancem com novas medidas corretivas. Se assim for, “é a Comissão Europeia a dar um passo atrás para depois dar dois passos à frente”, afirma o comentador político. E isso colocará António Costa entre a espada e a parede. Mas caso tenha de escolher entre ter problemas internos, com os partidos que o apoiam, ou ter problemas lá fora, com os mercados, Mendes acredita qual será a escolha do primeiro-ministro: “António Costa nunca comprará uma guerra com Bruxelas, jamais”.

A notícia sobre os próximos passos de Bruxelas no capítulo “sanções” foi avançada este domingo, mas a decisão final só será fechada na terça-feira, quando o colégio de comissários se reunir para decidir o que vai fazer a Portugal e Espanha, que em 2015 registaram um incumprimento das metas europeias por défice excessivo. Falando no seu espaço habitual de comentário na SIC, o ex-líder do PSD classificou a proposta que Bruxelas se prepara para fazer de “um recuo positivo”, na medida em que fica claro que Portugal não será sancionado pelos resultados do ano passado, “o que seria injusto depois do esforço todo que foi feito”.

Mas tem um revés, que são os chamados “dois passos à frente”: “O que a Comissão Europeia quer dizer com isto é ‘nós desconfiamos da execução deste ano e por isso vocês têm três semanas para apresentar uma espécie de plano B’“, explica o comentador, sublinhando que, ao mesmo tempo que Bruxelas pressiona, também mostra algum “arrependimento” por não ter batido o pé quando, no início do ano, ao analisar a proposta de Orçamento do Estado do Governo português pediu alterações e António Costa não cedeu muito. “Agora querem mais”, diz.

Se se concretizar a proposta, Marques Mendes lembra que isso colocará o primeiro-ministro, e o Governo em geral, entre a espada, que são os partidos de esquerda que apoiam o Governo, e a parede, que é Bruxelas a pedir mais medidas para acertar contas. “Se o Governo tiver três semanas para implementar medidas corretivas pode haver problemas: se cumpre, António Costa pode ter problemas cá dentro, na sua base de apoio, se não cumpre, tem problemas com os mercados e a subida dos juros da dívida”.

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E o que é que Costa fará nessa “encruzilhada”? “António Costa nunca comprará uma guerra com Bruxelas, jamais. Sabe que isso pode ter consequências nos juros e na dívida”, afirma o comentador e ex-líder do PSD.

Oposição interna é “frouxinha”. Bruxelas e INE são “a verdadeira oposição”

Por tudo isto, Marques Mendes não tem dúvidas em afirmar que neste momento a verdadeira oposição ao Governo é Bruxelas. Mas não só. Também o Instituto Nacional de Estatística (INE) faz esse papel melhor do que qualquer partido da oposição, do PSD ao CDS, diz Mendes, elogiando apenas a posição que tiveram sobre a comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos e a proposta que o CDS vai levar esta semana ao Parlamento sobre a Segurança Social.

“A oposição é assim frouxinha, frouxinha. A verdadeira oposição é Bruxelas e o INE, que divulga dados que não são simpáticos para o Governo”, diz.

Numa crítica muito direcionada à ex-ministra das Finanças, que este sábado disse que “se fosse ministra” o problema das sanções não se punha, o comentador acusou Maria Luís Albuquerque de ter perdido “uma boa oportunidade para estar calada“, por ter entrado na “mesquinhez partidária” e não ter posto o “interesse nacional” em primeiro lugar.

A propósito da análise sobre o “Estado da Nação”, balanço que é feito anualmente pelo Parlamento, Marques Mendes sublinha a existência de dois países diferentes: o da “aparência”, onde os principais responsáveis estão “sempre em festa” e em alguns setores “há mais dinheiro no bolso”, e o da “realidade”, onde a “economia está a patinar”.

E de dois governantes diferentes, que “colocam chapéus diferentes”: Mário Centeno, que coloca o chapéu do técnico, e António Costa, que usa o chapéu do político, sendo que o ministro das Finanças afirmou esta semana ao jornal Público que as previsões económicas teriam de ser revistas em baixa, e o primeiro-ministro apareceu depois a contrariar a ideia. Para Marques Mendes, ambos estão sintonizados, já que Costa também sabe que as previsões têm de ser revistas. A diferença está na política: “Como António Costa é um politicão está a pensar que vamos fazer essa revisão das previsões mais lá para a frente, em outubro, porque nessa altura há a questão das consequências da saída do Reino Unido e aí pode-se justificar a revisão com fatores externos”, disse.