E se a a Península Ibérica se transformasse num verdadeiro deserto como o do Saara? O cenário pode parecer improvável, mas é, segundo um estudo realizado em França, o que poderá acontecer até ao final deste século caso as temperaturas globais na zona do Mar Mediterrâneo sofram um aumento de dois graus. Se assim for, o cenário que caracteriza o norte de África, poderá estender-se a Portugal e Espanha e cidades como Lisboa ou Sevilha ficarão no meio do deserto.

As temperaturas no Mediterrâneo estão já a aumentar mais depressa do que noutros locais do planeta. Entre 1880 e 1920 o aumento global fixou-se nos 0,85 graus Celsius, enquanto no Mediterrâneo este aumento foi de 1,3 graus. Historicamente, esta zona caracteriza-se pelos seus invernos molhados e pelos seus verões secos. Um clima temperado que tem atraído muitos turistas. Mas parece que este cenário pode não durar para sempre.

As conclusões do estudo que assim o demonstra foram assinadas por dois cientistas do Centro Nacional de Investigação Científica francês e publicadas esta quinta-feira na Science. Joel Guiot e Wolfgang Cramer analisaram o pólen depositado em camadas de sedimentos ao longo dos últimos dez mil anos para conseguirem caracterizar a vegetação aqui existente. Estas análises foram depois cruzadas com projeções climáticas. E os cientistas concluíram que estas características só se mantêm se o aumento da temperatura global não exceder os 1,5 graus. Caso estas temperaturas aumentem, a vegetação não resistirá e os atuais ecossistemas do Mediterrâneo vão desaparecer.

Se assim for, ainda no final deste século, a paisagem no Mediterrâneo acabará parecida com a do deserto do Saara, afirma o The Weather Channel, que cita o estudo publicado pela Science. E as temperaturas que se farão sentir em Lisboa ou em Sevilha serão muito próximas das que agora caracterizam as cidades marroquinas. O estudo dá mesmo o exemplo do Palácio da Pena, em Sintra, cuja vegetação à volta poderá desaparecer até ao final do século.

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PALACIO,

O Palácio da Pena, em Sintra, está rodeado de vegetação

O estudo apenas assenta em alterações climáticas, mas não são apenas estas que contribuem para a mudança dos ecossistemas e para a desertificação, como advertiu Guiot ao Inside Climate News. “Não são apenas as alterações climáticas, a organização política também é importante”, disse. A intervenção humana também pode contribuir para este cenário.

O The Weather Channel lembra ainda os milhões de turistas que todos os anos escolhem Espanha e Portugal pelo seu clima, pela sua história, pela gastronomia e que poderão ver tudo mudar.