A portuguesa Inês Henriques, que entrou domingo para a história do atletismo como a primeira recordista mundial dos 50 quilómetros marcha, com 04h08.25 horas, admitiu esta segunda-feira à Lusa o desejo de baixar esse registo para perto das quatro horas.

A marchadora olímpica, de 36 anos, fixou o recorde nos campeonatos nacionais de marcha de estrada de 35 e 50 km, em Porto de Mós, Leiria, aproveitando o facto de a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) ter aberto a distância ao setor feminino a partir deste ano.

“Agora, pertence a mim e às mulheres do mundo da marcha fazerem o que eu fiz ontem [domingo] para nós termos força na IAAF, para eles reconhecerem a nossa prova igual à dos homens”, referiu à Lusa Inês Henriques, que representa o Clube de Natação de Rio Maior.

Em causa está o facto de, apesar de a IAAF ter aberto pela primeira vez a distância ao sector feminino, que até agora tinha como melhor marca mundial a da sueca Monica Svensson, com 4:10.59 horas, o organismo exigir para o próximo Mundial a mesma marca mínima dos homens (04:06 horas).

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“O meu principal objetivo era fazer o recorde mundial, melhorando a melhor marca do mundo, e o segundo, que de alguma forma poderia ser possível, era fazer menos de 4:06 horas, para poder estar no Mundial e demonstrar que as mulheres também têm o seu lugar nos 50 quilómetros marcha”, referiu.

A atleta de Rio Maior acrescentou que, durante a prova, ia com ritmo para alcançar a marca desejada, mas os últimos quilómetros, principalmente os últimos três, foram dramáticos, do ponto de vista do desgaste físico, e perdeu muito tempo.

“Mas pronto, foi uma tentativa. Poderia ter-me resguardado um pouquinho mais entre os 30 e os 40 quilómetros, mas manter o ritmo não estava fácil. Mas está feito e bem feito”, reconheceu a primeira recordista mundial dos 50 quilómetros marcha.

A prova teve todos os certificados que eram exigidos para a homologação do recorde mundial, incluindo análises ao sangue e urina para controlar EPO, e a IAAF já divulgou a marca obtida pela portuguesa Inês Henriques para os restantes organismos.

A atleta do Clube de Natação de Rio Maior demonstrou vontade de tentar baixar a marca alcançada por si no domingo, ainda não sabe quando, dado que terá agora que descansar, e acredita na possibilidade de concluir os 50 quilómetros marcha “perto das quatro horas”.

“Não sei quando, mas se me perguntarem se vou tentar bater o recorde digo já que sim, que tenho ambição de o baixar e de o aproximar das quatro horas, que acho ser possível. Mas tenho ainda que recuperar do desgaste”, disse.

A atleta desafia as marchadoras mais experientes, não as que se estão a iniciar na disciplina, a seguirem-lhe o exemplo e a tentarem alargar a quilometragem das suas provas para os 50 quilómetros, que era, até ao início do ano, a única disciplina sem correspondência no sector feminino.

“Desafio as atletas que gostam do que fazem, e de desafios, a experimentarem os 50 quilómetros. Com paciência e treino árduo”, disse Inês Henriques, acrescentando que a sua preparação para atacar o recorde “foi dura, mas feita com muita alegria e satisfação”.

A atleta recordou que, antes da prova, lhe perguntaram se iria continuar a tentar o recorde caso o não conseguisse estabelecer, ao que respondeu que tal não era hipótese, pois iria conseguir.

“Foi aquela coisa de eu querer ser a primeira mulher a ter o recorde do mundo. O resto foi tudo mais fácil, foi tudo feito com muita determinação”, disse ainda Inês Henriques, que irá ter agora duas semanas de descanso ativo para recuperar do desgaste.

Depois, irá até à Serra Nevada, aumentar a carga de treinos gradualmente, ao que se seguirá o regresso a casa para participar nos campeonatos de Portugal, ainda em ritmo de treino, dado se desconhecer ainda os critérios para os Mundiais.

“Depois, vou ao México fazer duas competições e volto para estar bem em Rio Maior, perante o meu público”, concluiu Inês Henriques, que conta três participações olímpicas, a última das quais no Rio2016, onde alcançou o 12.º posto nos 20 km marcha.

No currículo conta ainda um sétimo posto nos Mundiais de 2007 e um nono nos Europeus de 2010, sempre na distância dos 20 km.