Uma família manda parar o táxi numa rua coberta de escombros na cidade síria de Homs. Quatro pessoas saem e entram num apartamento onde viviam antes de os rebeldes terem assumido o controlo da cidade e reduzido as casas a cinzas. Saem de lá com aquilo que sobrou dos bombardeamentos e tiroteios entre as forças anti-governamentais e os militares defensores de Bashar al-Assad. Sobrou pouco, embora o rapaz se contente com um colorido chapéu de festa que encontrou no chão. O cenário foi fotografo por Sergey Ponomarev em junho de 2014, quando viajou para a Síria com a câmara fotográfica. Agora, as imagens do fotojornalista que venceu um Pulitzer em 2016 vão estar em exibição do Imperial War Museum em Londres.

Em conversa com o The Guardian, Sergey Ponomarev diz que os rebeldes não tinham muitas armas nem muitos homens quando, no início da guerra civil na Síria, conquistaram Homs. Mas tinham atiradores de elite e granadas propulsoras de foguetes (RGP). E isso bastou: “Se vissem um tanque, um atirador fazia um pequeno buraco na armadura do tanque e um outro homem, com uma RGP, tentaria atingir o mesmo ponto para que o RPG fosse mais fundo no tanque e explodisse”, explica Ponomarev.

Nas fotografias expostas no museu, que celebra cem anos em 2017, Sergey Ponomarev mostra também a vida de quatro rapazes que brincam entre as ruínas de Homs. Passam o dia a queimar o plástico dos fios elétricos para conseguirem recolher o cobre e vendê-lo. Outra fotografia mostra um centro comercial, recém-construído e nunca inaugurado, do qual só sobra a carcaça e uma fotografia gigantesca do presidente sírio, Bashar al-Assad, à entrada.

A quarta imagem, no entanto, exemplifica aquilo que Sergey Ponomarev diz procurar quando tira fotografias em cenários de guerra: “Tudo deve estar no lugar certo no momento certo – a luz, as pessoas, o evento ou a ação. Tudo deve ser bem equilibrado, de modo a que o quadro esteja perfeitamente moldado. Essa é uma habilidade que se desenvolve ao longo dos anos”. Foi captada em agosto de 2013 em Damasco, numa região síria controlada por rebeldes. Na imagem pode ver-se uma explosão ao fundo da rua. Enquanto toda a gente fugia, o fotojornalista decidiu ficar no local do ataque e fotografar a reação dos sírios. Encontrou um homem parado no meio da estrada a segurar uma bicicleta. Pôs-se atrás dele e captou um residente “estupefacto com a situação”, como descreve Ponomarev.

No meio do sofrimento que fotografou na Síria, Sergey Ponomarev conseguiu perceber que a perceber que a população síria está a ser persuadida por uma máquina de propaganda erguida pelo governo. E essa é a parte mais difícil de ser jornalista estrangeiro na Síria, considera ele: “Vê-se que eles têm as próprias verdades”. No entanto, Ponomarev assume que a reportagem feita no ocidente não é mais isenta do que a preparada dentro do país, porque a maior parte desses jornalistas estavam do lado dos rebeldes. “Tenho esta possibilidade de entrar, de ver que é uma sociedade normal, de explicar por que apoiam o governo”, explica.

Na fotogaleria pode encontrar cinco das imagens captadas por Sergey Ponomarev na Síria e agora em exibição em Londres.

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