Quase apostamos que alguns escritores que tiveram uma ligação próxima e emocional à Póvoa de Varzim haveriam de gostar deste Theatro. Eles estão lá: o António Nobre, o Eça de Queiroz e tantos outros, nas estantes deste novo espaço na Rua Santos Minho. O Theatro é um restaurante, mas também uma livraria, um wine bar e uma galeria de arte. Foi inaugurado há pouco mais de um mês e clientes e curiosos não têm faltado.

“Uma reserva para dois às 20h? Sim, claro que pode ser”, responde Eduardo Bago, um dos sócios deste novo projeto. Enquanto o telefonema acontece, há algumas pessoas a tirar fotografias às estantes de livros no andar de cima, outras a tomar café ao balcão e um ou outro curioso do lado de fora a espreitar pelo vidro para ver este Theatro. A manhã está calma, mas avizinha-se o almoço (mais ou menos agitado) para preencher as cadeiras de tons de azul e cinzento do restaurante no andar de baixo.

A fachada do Theatro

Lá ao fundo está a cozinha com um balcão acessível aos olhares de todos. A partir do restaurante, é possível ver a preparação das refeições com o chef Pedro Oliveira a liderar as tropas. Já numa pequena esplanada interior, ou jardim de inverno, ainda há clientes a beber um sumo ou um café ao final da manhã.

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À semelhança da imensidão de histórias e personagens dos livros alojados nas prateleiras do corredor – que dá acesso ao piso superior – a vida do agora Theatro tem sido concorrida. Antes de ser uma loja de venda de botijas de gás, o espaço tinha mesmo um teatro, com palco, atores e muita boémia.

“Quando vim cá pela primeira vez com o promotor imobiliário, depois de a loja ter fechado, disse logo: ‘Isto é uma livraria, ponto’”, explica Alberto Bago, outro dos sócios do Theatro.

Aos dois irmãos, Eduardo e Alberto Bago, juntaram-se mais dois sócios, o amigo Luís Milhazes e o primo Jaime Oliveira. Nestas coisas dos negócios, o acaso tem muito pouco a dizer, mas o destino assim ditou. Os quatro sócios – alguns com outros estabelecimentos comerciais – tinham individualmente o desejo antigo de assumirem um negócio diferente. Conversa puxou conversa, convite seguiu-se a convite e nasceu a equipa-mestre do Theatro.

O edifício foi comprado a 31 de dezembro do ano passado e durante seis meses houve muitas remodelações no interior. A fachada foi a única exceção à regra. Apesar de ter sido reabilitada, a entrada manteve a forma e a estética original, com tons de rosa subtil. “Há poucos edifícios na Póvoa de Varzim com esta característica especial: a de terem uma fachada imponente”, salienta Alberto. Ora, embora os livros seja a predileção deste sócio, Alberto Bago não esconde a atração principal (para já) do Theatro: o restaurante.

Uma mesa com vinho, comida e livros

É com o chef Pedro Oliveira no leme que os sócios foram convencidos a trocar as voltas ao tipo de restauração que tinham idealizado. “Pensávamos inicialmente que faria mais sentido ter refeições mais leves, como sandes, sumos naturais, bolinhos e batidos. Era isso que conhecíamos neste tipo de negócios”, explica o irmão Eduardo. Mas não. Tal como acreditam que primam pela diferença na livraria – tem mais de 25 mil livros em fundo de catálogo – e no wine bar – com mais de 100 referências de vinho –, a comida não podia ficar em segundo, terceiro ou quarto plano.

“Quando o Pedro me disse que queria colocar bochechas de porco na carta, eu disse que nem pensar”, confessa Alberto Bago. No entanto, o prato de bochechas de porco com puré de queijo e compota de cebola roxa (14,90€) tornou-se um dos mais vendidos. Outras escolhas habituais dos clientes? O bacalhau com crumble de broa (15,90€), o polvo à lagareiro com tomate seco e cebola crocante (14,90€) e naco da vazia maturada (16,90€).

“O objetivo era alargar o restaurante a todo o tipo de pessoas e ficar de acordo com as suas preferências”, afirma o chef Pedro Oliveira. Fora das horas regulares para refeições (almoço e jantar), o Theatro oferece outras opções para o lanche, o final da tarde ou o final da noite, como sanduíche queijo brie (4,20€), prego de lombo à Theatro (5,50€) e hambúrguer de maminha (8,90€).

Para os vegetarianos, há a opção de risotto de quinoa com legumes da horta (9,90€). Já nas sobremesas, a mousse de chocolate com amendoins crocantes (3,60€), a panna cotta de frutos silvestres (4€) e o gelado de queijo de cabra com redução de vinho do Porto (4€) são algumas das possíveis escolhas.

No vinho, desde os verdes aos tintos, os valores podem variar entre os nove euros e os 33 euros por garrafa, consoante a marca escolhida. Também na lista das bebidas entram os espumantes e os champanhes.

Amostra das enormes estantes espalhadas pelo espaço

A questão pode ser quase polémica: sendo a Póvoa uma cidade de pescadores e mar não faria sentido uma aposta certeira no peixe? Os responsáveis acreditam que não, é um campeonato que não queriam disputar no Theatro. “Conhecemos restaurantes na Póvoa que já são muito bons no marisco e no peixe”, logo não faria sentido ir pelo mesmo caminho, refere Luís Milhazes, que se juntou à conversa.

Já Alberto Bago acrescenta que não tinham noção do número de pessoas que iriam aderir ao restaurante, logo o peixe poderia ser um risco e um desperdício. “Talvez se estivéssemos mais na linha da praia, faria sentido essa aposta”, esclarece.

Todos concordam que a falta de tempo tem sido um problema para pôr em prática algumas das tarefas que ainda têm idealizadas para Theatro. Porém, o tempo tem sido igualmente um fiel aliado para se focarem nas necessidades mais importantes. Como o restaurante, por exemplo.

O futuro está reservado para a criação de uma agenda cultural, onde os concertos de jazz e bossa nova estão entre as ideias. Também durante maio, haverá uma tertúlia com o jornalista João Gobern, onde se “falará de tudo menos de futebol” – será assim mesmo o nome da iniciativa.

Entre géneros literários tão diferentes como romances ou guias de viagem, a vida do Theatro faz-se numa conjugação de diferentes ingredientes – não exclusivos aos pratos do restaurante. Começaram numa loja de gás e terminam nas prateleiras de uma livraria ou num sofá de um wine bar.

Nome: Theatro
Morada: Rua Santos Minho, nº10, Póvoa de Varzim
Telefone: 918 803 798
Online: facebook
Horário: De terça a quinta-feira das 10h às 00h. De sexta-feira a sábado das 10h às 2h. Domingo das 10h às 00h. Descanso semanal à segunda-feira.