A disciplina de Matemática é, claramente, aquela em que os alunos do 5.º e do 6.º anos têm mais dificuldades de aprendizagem. Mais de um quarto dos alunos matriculados nestes anos de escolaridade em 2014/15 tiveram negativa, segundo um Estudo Inédito sobre Desempenho no 2º Ciclo, divulgado esta segunda-feira pela Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC).

Os alunos que não conseguem mais do que um dois (numa escala de 0 a 5) a Matemática no sexto ano (30%) são ainda mais do que aqueles que têm negativa no 5.º ano a esta disciplina (26%). E mesmo até entre os alunos que passam de ano, há alunos que não conseguem positiva a Matemática: 20% no caso dos que transitam para o 6.º ano e 24% entre os que passam para o 7.º ano.

E não só Matemática é a disciplina em que mais os alunos tropeçam, como é aquela em que é mais difícil recuperar de uma negativa. Dos alunos que passaram do 5.º para o 6.º ano com negativa a Matemática, apenas 20% recuperaram para terreno positivo no ano seguinte e só 22% dos que passaram para o 7.º ano com negativa a esta disciplina conseguiram, pelo menos, um três um ano depois.

Esta maior dificuldade de recuperação de nota a Matemática “poderá estar relacionada, entre outros fatores, com a natureza fortemente sequencial e construtiva das matérias desta disciplina, na qual é difícil avançar sem uma compreensão sólida dos passos anteriores”, lê-se no estudo agora divulgado.

Se olharmos para aquele grupo de alunos que acaba mesmo por chumbar de ano e repetir as disciplinas, então aí o cenário ainda consegue ser mais “desanimador”: “após frequentarem de novo um ano escolar completo de Matemática — cerca de 150 horas letivas adicionais de repetição de conteúdos da disciplina — menos de 40% dos alunos retidos conseguem recuperar uma negativa obtida anteriormente a Matemática”. Ou seja, nem o facto de repetirem a matéria é suficiente para a compreenderem melhor.

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Mas se, por um lado, a maior percentagem de chumbos se regista na disciplina de Matemática (seguida de Inglês), por outro lado é mais frequente encontrar alunos com nota máxima (cinco) nesta disciplina do que noutras como Português, por exemplo. Aliás, Português é a disciplina em que menos alunos conseguem alcançar um cinco, tanto no 5.º como no 6.º anos. Já Educação Musical e Educação Física são as duas disciplinas em que mais alunos conseguem ter cinco.

Um terço dos alunos do 5.º e 6.º anos passam com pelo menos uma negativa

Este estudo detalhado permite ainda perceber que 30% dos alunos que chegam ao 6.º ano levam, pelo menos, uma negativa e o mesmo é válido para 34% dos alunos que transitam do 6.º para o 7.º ano.

Há mesmo uma fatia de alunos que passam para o 6.º ano com três ou mais negativas (5%), pois a lei assim o permite. No 5.º ano, “a decisão entre a transição ou retenção fica a cargo dos professores do aluno, na figura do conselho de turma”. Os critérios, normalmente, são os mesmos estabelecidos para o sexto ano, sendo que na transição do 6.º para o 7.º ano não é possível passar com três ou mais negativas, mas apenas com duas e caso não sejam cumulativamente Português e Matemática.

De resto, este estudo vem confirmar a ideia de que alunos com maiores dificuldades sócio-económicas têm pior desempenho escolar. Por exemplo: no 5.º ano 44% dos alunos com apoio máximo de ação social escolar tiveram negativa a Matemática, contra 28% dos alunos com o segundo escalão de apoio de ação social escolar. E apenas 16% dos alunos sem qualquer apoio social tiveram negativa a esta disciplina.

Parece assim inegável que, em Portugal, o sistema educativo terá de continuar a trabalhar para que a escola pública cumpra o seu papel nivelador de oportunidades entre alunos oriundos de diferentes estratos socioeconómicos”, escrevem os autores do estudo. “O trabalho específico sobre os grupos de alunos em risco aparenta não estar a ser suficientemente eficaz para reequilibrar a balança, especialmente a Matemática.”

Os indicadores utilizados neste estudo foram calculados a partir dos dados reportados pelas escolas públicas de Portugal Continental e abrangem alunos matriculados no 5.º e 6.º anos em 2014/2015.