Donald Trump rasgou o Acordo do Clima de Paris, esta quinta-feira, cumprindo uma das promessas que fez durante a campanha presidencial. Num longo discurso onde oficializou a decisão, nos jardins da Casa Branca, Trump justificou a saída do acordo com uma frase que está a gerar polémica: “Fui eleito para representar os cidadãos de Pittsburgh, não os de Paris”.

É fake news, diz Bill Peduto, presidente da câmara da cidade. “Facto: Hillary Clinton recebeu 80% dos votos em Pittsburgh”, pode ler-se no tweet de Peduto.

Ainda assim, a informação do presidente da câmara está também distorcida. Em Pittsburgh, Hillary Clinton recebeu 55,9% dos votos, contra os 39,5% de Trump. Entre a confusão dos números, uma informação é certa: Clinton foi a preferida dos habitantes da cidade de Pittsburgh.

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Não só a nível de votos a escolha de Trump foi errada. De acordo com um estudo da Universidade de Yale correspondente a 2016, 78% das pessoas do condado de Filadélfia, onde está localizada Pittsburgh, acredita na existência do aquecimento global e 72% estão preocupado com ele. Cerca de 70% da população de Pensilvânia defende o Acordo de Paris e a participação norte-americana, segundo outro estudo da mesma universidade.

Mas então, porque é que Trump escolheu a cidade de Pittsburgh? Começar com a mesma letra que a cidade de Paris parece ser a única justificação. Não se conhece outra mas esta escolha mostra algum descuido por parte de Donald Trump na análise dos dados e estatísticas.

A cidade de Pittsburgh, a segunda cidade mais populosa do estado de Pensilvânia, ficou no ouvido mas Trump indicou Youngstown, em Ohio, e Detroit no Michigan como outras cidades que iriam beneficiar da saída dos EUA do Acordo de Paris. Mas ambas as cidades pertencem a condados onde a adversária de Trump conseguiu mais votos.

O que tem Paris e Pittsburgh em comum? Estão unidos contra Trump

Nos últimos censos dos Estados Unidos, Pittsburgh tinha pouco mais de 305 mil pessoas enquanto Paris ultrapassa os dois milhões. Paris é capital da França. Pittsburgh está longe disso. É uma cidade do condado de Filadélfia no estado norte-americano da Pensilvânia. Estão a a quase quatro mil quilómetros de distância. Muitos números afastam estas duas cidades mas há agora um fator que as junta: estão contra Trump.

É Anne Hidalgo, presidente de câmara de Paris, quem dá a garantia já avançada pelo presidente da câmara de Pittsburgh . Através do Twitter, Hidalgo revela que “Paris e Pittsburgh estão juntos pelo Acordo de Paris”, acrescentando que “mais uma vez, Donald Trump está errado”.

“Como presidente da câmara de Pittsburgh, garanto-vos que vamos seguir as diretrizes do Acordo de Paris pelo nosso povo, a nossa economia e o futuro”, pode ler-se no tweet de Bill Peduto. Às duas cidades, juntam-se líderes políticos e de economia de todo o mundo. Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, Emmanuel Macron, presidente da França, António Guterres, secretário-geral da ONU e até Barack Obama.

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Paris, Pittsburgh e outros 86 presidentes de câmaras porque “o mundo não pode esperar”

Trump está mais perto de estar sozinho nesta decisão do que Paris e Pittsburgh. No mesmo dia em que a decisão foi oficializada, surge a Climate Mayors, para contrariar a escolha do presidente norte-americano.

Se o presidente quer quebrar as promessas feitas aos nossos aliados consagrados no histórico Acordo de Paris, construiremos e fortaleceremos relacionamentos por todos´o mundo para proteger o planeta de riscos climáticos devastadores”, pode ler-se no comunicado emitido pela união Climate Mayors.

86 presidentes de câmaras de várias cidades dos Estados Unidos anunciaram que iam “adotar, honrar e defender os compromissos com os objetivos consagrados no Acordo de Paris”. “O mundo não pode esperar e nós também não vamos fazê-lo”, prometem os presidentes.

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Texto editado por Luís Rosa